sábado, 9 de fevereiro de 2019

ANDRÉ BRETON – Lua-de-mel


ANDRÉ BRETON
(França, 1896 - 1966)
Poeta, escritor

***

LUA-DE-MEL

A que se apegam as inclinações recíprocas? Há ciúmes mais picantes que outros. A rivalidade de uma mulher ou de um livro, passeio bem nessa obscuridade. O dedo na cabeça não é o cano do revólver.

Creio que nos ouvimos pensar mas o maquinal «Nada» que é a mais brava das nossas recusas não se fez ouvir durante toda esta viagem de núpcias. Mais baixo que as estrelas não há nada para ver fixamente. É perigoso assomar à janela.

Ao longo dos carris viam-se estações nitidamente repartidas sobre o golfo. O mar que para a vista humana nunca é mais belo que o céu não nos largava. Nos nossos olhos perdiam-se os belos cálculos orientados para o futuro como os muros das prisões.




Tradução: Mário Cesariny
 



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