ANDRÉ BRETON
(França, 1896 - 1966)
Poeta,
escritor
***
LUA-DE-MEL
A que se apegam as inclinações recíprocas? Há ciúmes
mais picantes que outros. A rivalidade de uma mulher ou de um livro, passeio
bem nessa obscuridade. O dedo na cabeça não é o cano do revólver.
Creio que nos ouvimos pensar mas o maquinal «Nada» que
é a mais brava das nossas recusas não se fez ouvir durante toda esta viagem de
núpcias. Mais baixo que as estrelas não há nada para ver fixamente. É perigoso
assomar à janela.
Ao longo dos carris viam-se estações nitidamente
repartidas sobre o golfo. O mar que para a vista humana nunca é mais belo que o
céu não nos largava. Nos nossos olhos perdiam-se os belos cálculos orientados
para o futuro como os muros das prisões.
Tradução: Mário Cesariny
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