domingo, 21 de abril de 2019

BEATRIZ COSTA - 'A Brasileira dos Anos 30' - (VI)


  
 BEATRIZ COSTA
(Charneca do Milharado, Portugal, 1907 - Lisboa, 1996)
Actriz de teatro e cinema

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Perto do Teatro da Trindade, em Lisboa, fica o célebre café A Brasileira do Chiado.
Nessa altura, uma senhora não frequentava lugares em que os homens permanecessem…

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(continuação)

 A BRASILEIRA DOS ANOS 30!


António Botto, poeta maiúsculo da língua portuguesa, que acabou no Brasil duma forma triste, aparecia n´A Brasileira, para desespero de Mário Sáa. Mário era um homem rico, mas coçava-se para dentro. Mais baixo do que eu e sempre de chapéu de coco, parecia um boneco. Um dia em que eu tomava café na sua mesa apareceu o Botto. Mário, bem educado, convidou-o a sentar-se e pagou-lhe o capilé, uma espécie de vinagre doce e muito barato… À noite, no meu camarim, recebi a visita do grande poeta das Canções. «Venho agradecer-lhe o capilé de cinco tostões que o Mário Sáa me pagou…», e riu às gargalhadas.

Nessa época, Mário ainda era solteiro e fez tudo para me pegar. Desapareceu do Chiado e viveu em Avis, no Alentejo. Apagou-se e foi pena. Porque era um homem de grande inteligência, e há tão pouco disso no mercado… Casou e parece que teve prole numerosa.

Do Botto não vale a pena contar a história. É triste, como o fim de todos os poetas. Mas aqueles meses sem sepultura talvez tivessem sido um exagero…Que época!

(continua)



 in “Sem Papas na Língua” – Memórias - 1974


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