segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

PIER PAOLO PASOLINI - À minha nação



PIER PAOLO PASOLINI
(Bolonha, Itália, 1922 - Óstia, 1975)
Cineasta, poeta, escritor

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É um dos maiores intelectuais italianos do século XX. Cineasta consumado, a sua carreira reparte-se entre a escrita literária, o guionismo e o jornalismo.
Acérrimo crítico da burguesia italiana em ascensão no pós-guerra e da sociedade consumista, revelou-se em todo o seu esplendor como figura maior que previu e denunciou os males da sociedade contemporânea. Foi assassinado em Ostia, nos arredores de Roma, em Novembro de 1975.

in “Antígona”

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À MINHA NAÇÃO

Não povo árabe, não povo balcânico, não povo antigo,
mas nação vivente, mas nação europeia:
e o que és? Terra de infantes, famintos, corruptos,
governantes a soldo do latifúndio, prefeitos reaccionários,
advogadinhos sebentos de brilhantina e pés imundos,
profissionais liberais canalhas como tios carolas,
um quartel, um seminário, uma praia livre, um bordel!
Milhões de pequenos burgueses como milhões de porcos
a pastar empurrando-se sob intactos palacetes,
entre casas coloniais já descascadas feito igrejas.
E justo porque exististe, agora não existes,
justo porque foste consciente, és inconsciente.
E só porque és católica, não podes pensar
que teu mal é todo o mal: culpa de todo mal.
Naufraga em teu mar maravilhoso, liberta o mundo.





Tradução: Maurício Santana Dias




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