quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

CESÁRIO VERDE – De tarde



CESÁRIO VERDE
(Lisboa, Portugal, 1855 - 1886)
Poeta

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Deve-se-lhe a renovação impressionista da linguagem poética, o que faz de Cesário Verde um precursor de Fernando Pessoa e do modernismo português.


in “Grande Livro dos Portugueses”

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DE TARDE

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.


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