domingo, 1 de março de 2020

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL (IX)





A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL (IX)


Quando que por meio da tortura da corda se não tinha chegado ao fim desejado pelos ministros do Santo Ofício, tinha então lugar a segunda espécie – a da água. Esta mesmo se dava a alguns réus logo da primeira vez, circunstância só dependente da mera vontade dos inquisidores. 

Reduzia-se o segundo grau de tratos a fazer beber por força ao paciente uma extraordinária quantidade de água, o que pelo modo de se executar se constituía um tormento muitas vezes mais doloroso do que o da corda. O mofino a quem caberia sofrer tão maldita tortura era deitado sobre um banco construído em forma de leito, mas que era artificialmente cavado no meio e disposto a poder abrir-se e cerrar-se à vontade dos algozes. 

Esta sorte de vaivém se operava por meio dum varão de ferro, que ficava por baixo do corpo atormentado e a pressão fortíssima, ordenada por meio deste, confrangia desabridamente as vértebras do paciente, ocasionando-lhe dores insuportáveis. Enquanto por esta parte era assim torturado, por um funil se lhe lançava na boca quantidade imensa de água, que também o encharcava todo e fazia estar como num banho. A segunda circunstância aumentava a violência da primeira. 

Por certo que os selvagens não seriam capazes de mais!... Mas se o fossem, pouco admiraria. 

Porém, cristãos e sacerdotes?!!!... Ah! Grande Deus! Que imensa é a vossa infinita misericórdia e recrescida a nossa depravada miséria !...





in “História dos Principais Actos e Procedimentos da Inquisição em Portugal” – José Lourenço D. de Mendonça e António Joaquim Moreira.

Imagem: cena de tortura



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