domingo, 22 de março de 2020

ANTÓNIO QUADROS – O lirismo e as suas subespécies




ANTÓNIO QUADROS
(Lisboa, Portugal, 1923 - 1993)
Escritor, filósofo, tradutor

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O LIRISMO E AS SUAS SUBESPÉCIES


Às três subespécies da poesia lírica – a heróica, a elegíaca e a lírica propriamente dita – atribuíam os antigos a protecção de três musas, Calíope para a primeira, Érato para a segunda, e para a terceira Polímnia.

Chama-se poesia lírica, em boa razão estética, a toda aquela que não é dramática nem narrativa, e na espécie da poesia chamada narrativa há por certo que incluir a didáctica. 

A poesia lírica pode exprimir directamente os sentimentos e as emoções do poeta, sem deles querer tirar conclusões gerais, ou lhes atribuir maior sentido que o de serem simples emoções e sentimentos: é esta a poesia propriamente, ou simplesmente, lírica. A esta é que Polímnia rege. 

Pode também a poesia lírica exprimir não sentimentos ou emoções, senão o conceito que forma desses sentimentos ou dos alheios: é esta, propriamente, a poesia elegíaca, que não há mister que seja triste, como o uso vulgar do nome ordinariamente indica. Desta poesia, Érato é a musa. 

Pode, por fim, a poesia lírica dedicar-se a exaltar ou a deprimir a pessoa ou os efeitos de outrem, não tanto os comentando, quanto os elevando ou diminuindo: é esta, em seus dois ramos, a poesia heróica e a satírica. A estas legitimamente rege Calíope, se bem que lhe não dessem os antigos a regência da sátira.





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