sábado, 28 de março de 2020

CRISTÓVÃO FALCÃO - Não Sei para que Vos Quero



CRISTÓVÃO FALCÃO
(Portalegre, Portugal, 1515 - 1557)
Poeta
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É autor da obra Trovas de Cristal, écloga notável pelo seu realismo descritivo e psicológico, sendo o mais expressivo espécime de acomodação da poesia bucólica grega e latina à sensibilidade portuguesa.
in “Livro dos Portugueses”
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NÃO SEI PARA QUE VOS QUERO

Não sei para que vos quero,
pois me de olhos não servis,
olhos a que eu tanto quis!

VOLTAS

Pera ver que me fostes dados,
vós só a chorar vos destes;
e, se eu tenho cuidados,
meus olhos, vós mos fizestes.
Desque neles me pusestes,
do descanso me fugis,
olhos a que eu tanto quis!


Quando vós primeiro vistes,
que não me era bom sabíeis,
mas, por gozar do que víeis,
em meu dano consentistes.
O que então me encobristes
agora mo descobris,
olhos a que eu tanto quis!

Meus olhos, por muitas vias
usais comigo cruezas;
tomais as minhas tristezas
pera vossas alegrias.
Entram noites, entram dias,
olhos, nunca me dormis,
olhos a que eu tanto quis!

Ando-vos a vós buscando
cousas que vos dêem prazer,
e vós, quanto podeis ver,
tristezas me andais tornando.
Agora vou-vos cantando,
vós a mim chorando me is,
olhos a que eu tanto quis!



in “Antologia Poética”

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