sexta-feira, 13 de março de 2020

W. H. AUDEN - Parem já os relógios, corte-se o telefone



W. H. AUDEN
(York, Reino Unido, 1907 - Viena, Áustria, 1973)
Poeta

***

PAREM JÁ OS RELÓGIOS, CORTE-SE O TELEFONE


Parem já os relógios, corte-se o telefone,
dê-se um bom osso ao cão para que ele não rosne,
emudeçam pianos, com rufos abafados
transportem o caixão, venham enlutados.

Descrevam aviões em círculos no céu
a garatuja de um lamento: Ele Morreu.
No alvo colo das pombas ponham crepes de viúvas,
polícias sinaleiros tinjam de preto as luvas.

Era-me Norte e Sul, Leste e Oeste, o emprego
dos dias da semana, Domingo de sossego,
meio-dia, meia-noite, era-me voz, canção;
julguei o amor pra sempre: mas não tinha razão.

Não quero agora estrelas: vão todos lá para fora;
enevoe-se a lua e vá-se o sol agora;
esvaziem-se os mares e varra-se a floresta.
Nada mais vale a pena agora do que resta.



Tradução: de Vasco Graça Moura

1 comentário:

  1. Bom dia:- Sedutor de ler, brilhante a forma poética
    .
    Deixando cumprimentos poéticos.

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