domingo, 5 de abril de 2020

O ROQUE E A AMIGA



O ROQUE E A AMIGA 

Roque meteu a chave à porta e, ouvindo acordes de um tango, franziu o sobrolho, interrogativo.
A amiga, aparecendo à porta da cozinha secando uma última lágrima, deu de caras com Roque que, sorrindo, lhe oferecia um ramo de cravos, Vendo-a descomposta, Roque perguntou, apaziguador:
- Mas então o que é isso?
A mãe surgiu por trás da amiga, protectora. Roque avançou rápido, beijou-a prodigamente e perguntou afável:
- Então, minha querida sogra, por cá?
- Não me beije – deitou-lhe a sogra, tarde demais. – Você é um monstro!
- Eu? – surpreendeu-se Roque, voltando-se, inocente, para a amiga.
- É, Roque – a amiga hesitou. – Sabe… você às vezes excede um bocadinho a minha escala…
Roque abraçou-a pela cintura e perguntou, quase meigo:
- Não é por causa da americana, pois não?
A amiga sorriu ao de leve.
- Não, Roque – e acrescentou: - Estou tão contente por você ter voltado!
A amiga beijou-o longamente e a mãe insurgiu-se:
- Mas então… tanto barulho para nada?
A amiga voltou-se para a mãe e, piscando-lhe o olho, murmurou:
- É que o Roque, mãe … O Roque é diferente: o Roque é outra música.




in “Pão com Manteiga” (1980) – Bernardo Brito e Cunha, Carlos Cruz, Eduarda Ferreira, José Duarte, Mário Zambujal, Orlando Neves.




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