segunda-feira, 11 de maio de 2020

ENTREVISTA A LÚCIA DE JESUS – Pastora, Vidente, Doroteia, Carmelita, Memorialista.



LÚCIA DE JESUS ROSA DOS SANTOS 
(Aljustrel, Portugal, 1907 - Coimbra, 2005)
Pastora, Vidente, Doroteia, Carmelita, Memorialista 

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ENTREVISTA A LÚCIA DE JESUS


- Pergunta: Quantas vezes o pároco a terá interrogado?
- Resposta: Não recordo quantas, foram muitas, porque com frequência me mandava chamar para interrogar-me diante de outras pessoas, e por vezes, diante de outros sacerdotes.

- Pergunta: Alguma vez o pároco terá interrogado o Francisco e a Jacinta?
- Resposta: Sim, várias vezes.

- Pergunta: Como é que as pessoas tentavam que as crianças se desdissessem do que antes tinham dito?
- Resposta: De muitas maneiras, umas vezes com promessas, outras com ameaças, outras contradizendo, insultando e quando calhava, maltratando.

- Pergunta: A Jacinta esquivava-se frequentemente às perguntas dizendo «a Lúcia é que deve saber». Seria por ser mais nova ou por ter menos capacidade para perceber o que Nossa Senhora dizia?
- Resposta: Não me parece que fosse por nenhum destes motivos, mas sim pelo seu natural um pouco tímido em frente de estranhos e talvez com medo de dizer alguma coisa que eu não quisesse que se dissesse.

- Pergunta: Recorda-se de quando começaram a fazer sacrifícios voluntários corporais pelos pecadores?
- Resposta: Quando das aparições do Anjo.

Pergunta: Porque só anos depois se conheceram as aparições do Anjo?
Resposta: Em princípio fomos nós que não quisemos dizê-lo, depois o Sr. Bispo de Leiria, D. José, disse-me para não o dizer.

- Pergunta: Alguma vez lhe veio à ideia que se as aparições não fossem verdadeiras, a sua responsabilidade seria tremenda diante de Deus?
- Resposta: Não.

- Pergunta: Como interpreta a imposição de silêncio acerca das aparições que lhe foi posta desde o Asilo de Vilar?
- Resposta: Como norma de prudência.

- Pergunta: Já em Aljustrel o Senhor Bispo de Leiria lhe pedia que não respondesse a toda a gente sobre o que lhe perguntavam das aparições?
 - Resposta: Sim.

- Pergunta: Será capaz de fazer uma lista dos seus entrevistadores não cardeais desde Antero de Figueiredo?
- Resposta: Não, porque foram muitos. Não lhes ligava importância.

- Pergunta: Terão sido fiéis, no que publicaram, ao que lhes foi dito?
- Resposta: Não sei, porque durante muitos anos, não me foi permitido ler essas publicações.

- Pergunta: Gosta de escrever?
- Resposta: Não o faço por gosto, mas por obediência, condescendência e caridade.

Pergunta: A Irmã confessou um dia que em criança «a vaidade era o seu pior ornamento». Quer confessar em que se notava essa vaidade?
Resposta: No vestido, nos adornos, em cantar e bailar melhor que as outras crianças.

Pergunta: Alguma vez recebeu ameaças de morte?
Resposta: Sim, já digo nas «Memórias», como nos ameaçou o Administrador, pouco depois uns senhores que foram a Aljustrel, dizendo que se não me resolvia a dizer o segredo, o Sr. Administrador me mandaria matar, em 13-V-1920, pela tropa de cavalaria e caminho de Aljustrel, que propôs enterrar-me numas covas que havia abertas para plantação de tanchões e de outros que por lá apareciam e se julgavam autorizados a insultar, maltratar, escarnecer e a ameaçar.


- Pergunta: Nunca desconfiou de que as palavras que lhe pareciam vir de Nossa Senhora podiam ser ditas por alguém que estivesse escondido atrás da azinheira a falar?
- Resposta: Não, e creio que isso não era possível; em tal caso, ou se via a pessoa ou se não via ninguém, e não há nada, nem pessoa alguma que se pareça com Nossa Senhora ou que com Ela se possa confundir.

Pergunta: Recorda-se de ter respondido ao Pároco, quando este lhe perguntou porque não revelava o segredo, que, se ele quisesse ia lá abaixo à Cova da Iria e perguntava à Senhora se lhe dava autorização para revelar o segredo?
Resposta: Não recordo de ter dado tal resposta; penso que aí houve um mal entendido. Naturalmente, tanto ele como eu, sabíamos que Nossa Senhora não estava na Cova da Iria à minha disposição para eu lho ir perguntar, por isso penso que eu não podia ter dado essa resposta, a menos, que tenha sido num dia 13 antes do meio dia.

- Pergunta: Acredita no inferno?
- Resposta: Sim, acredito.

- Pergunta: A ideia de fazer da corda cilício surgiu espontaneamente ou tinha conhecimento de que alguns santos a usava?
- Resposta: Foi espontânea.

- Pergunta: Recorda em que lugar encontrou a corda?
- Resposta: Sim, na estrada um pouco antes de chegar ao barreiro.

- Pergunta: Que pensa hoje acerca desses sacrifícios corporais que até Nossa Senhora moderou?
- Resposta: Penso que eles agradaram a Deus, porque Nossa Senhora disse: «Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia».

Pergunta: Pode citar o nome de alguma pessoa que lhes chamasse intrujões? 
Resposta: Podia, mas não me parece necessário nem caritativo.

Pergunta: Lúcia, teve alguma vez consciência de que as suas revelações causavam embaraço às autoridades eclesiásticas? 
 Resposta: Nunca pensei nisso, e muitas vezes perguntei a mim mesma: para que querem saber tudo? A mim não me importa saber do que os outros viram!

Pergunta: Alguma vez imaginou que a terceira parte do segredo poderia ter o destino que teve indo para o Vaticano?
Resposta: Não.

Pergunta: Alguém a aconselhou, em 1941, a não escrever a terceira parte do segredo?
Resposta: Não, porque ninguém sabia, a não ser o Sr. Bispo que era quem mo mandava.

- Pergunta: O padre Marques Ferreira alguma vez lhes chamou “mentirosos” depois das aparições?
- Resposta: Chamar mentirosos, propriamente dito, não, perguntava: vocês não estarão a mentir? Não será tudo isso uma intrujice?

- Pergunta: Alguém, durante ou depois das aparições, lhe dava conselhos para que fosse cautelosa nas respostas aos interrogatórios?
- Resposta: Só depois das aparições, o Sr. Vigário do Olival e o Sr. Bispo de Leiria me recomendaram que respondesse com o mínimo de palavras que me fosse possível e me escapasse quando pudesse. Era o que já fazia.

- Pergunta: Recorda-se de algum milagre esplendoroso ainda durante as aparições?
- Resposta: Só recordo o milagre do sol.

Pergunta: O Sr. Bispo de Leiria já tinha imposto silêncio enquanto estava ainda em Aljustrel?
Resposta: Imposto não, tinha-o recomendado quanto fosse possível.

Pergunta: Acha que a limitação das entrevistas que se faz ainda hoje, é para não lhe permitir contradizer-se ou por outros motivos?
Resposta: Tenho entendido que é por uma norma de protecção e defesa.

- Pergunta: Quantas vezes a mãe de Lúcia lhe terá batido por causa das aparições?
- Resposta: Não sei, não recordo quantas foram.

- Pergunta: Para além da hipótese de ilusão diabólica, o pároco ou outros terão procurado inquirir na direcção de qualquer delírio, ou sonho, ou mesmo impostura das crianças, movidas pelo desejo de se evidenciar?
- Resposta: Sim.

Pergunta: Falando com toda a franqueza, os sacerdotes que a interrogaram pareceram-lhe mais inclinados a aceitar ou a recusar?
- Resposta: A recusar. 

- Pergunta: Que comentários faz Lúcia às várias versões do segredo que correm mundo?
- Resposta: Nenhuns, deixo correr, prefiro o silêncio.

- Pergunta: Sente-se desgostosa quando é chamada para entrevistas?
- Resposta: Sim.
                                                                      
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NOTA : Há 121 perguntas formuladas às quais a entrevistada não pôde responder sem autorização da Santa Sé.


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Entrevista conduzida pelo P. Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fátima. (20/Fev/1993) (excertos)
in “Lúcia de Jesus – Memórias”



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