sábado, 13 de junho de 2020

RAUL BRANDÃO - A Primitiva Infâmia



RAUL BRANDÃO
(Porto, Foz do Douro, Portugal, 1867 - Lisboa, 1930) Escritor

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Publicou contos, livros de viagens, peças de teatro, memórias e estudos históricos. A sua prosa simples e tensa palpita de dramatismo e fogo interior, em clarões de idealismo no lírico anarquismo niilista. Neto de um pescador, as suas páginas resumem simpatia e angústia ao evocarem as desgraças dos humilhados e ofendidos, sob a directa influência da leitura de Dostoievski, sendo neste aspecto caso ímpar na prosa portuguesa.

in “Livro dos Portugueses”

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A PRIMITIVA INFÂMIA

Desde que se cumpram certas cerimónias ou se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto - tudo ao mesmo tempo. A honradez deste homem assenta sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religião, a ganância e o escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por tabiques. Agora é a vez da honra - agora é a vez do dinheiro - agora é a vez da religião. Tudo se acomoda, outras coisas heterogéneas se acomodam ainda. Com um bocado de jeito arranja-se-lhes sempre lugar nas almas bem formadas.




in "Húmus" (citador)
Imagem: retrato de Raul Brandão (1928), por Columbano Bordalo Pinheiro. 







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