sexta-feira, 9 de agosto de 2013

MÁRIO CESARINY

 
 
 
 
        Mário Cesariny nasceu em Lisboa, no dia 9 de Agosto de 1923, e viveu até 26 de Novembro de 2006.
        Poeta, pintor, e historiador, assumiu integralmente o surrealismo português, considerando-o um meio de rebeldia, tanto na arte, como na vida, sobretudo contra o regime salazarista.
Completou o curso de cinzelagem na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde conheceu alguns dos futuros pintores surrealistas.
Estudou música com o compositor Fernando Lopes Graça.
        Em Paris, frequentou a “Académie de la Grande Chaumière”, onde conheceu André Breton, um escritor e poeta francês, teórico do surrealismo.
        A partir de meados dos anos 60, Cesariny dedicou-se exclusivamente à pintura.
        Da sua obra, destacam-se os livros: “Corpo Visível”, “Louvor Simplificação de Álvaro de Campos”, “Manual de Prestidigitação”, “Pena Capital”, “Nobilíssima Visão”, “As Mãos na Água a Cabeça no Mar”, “Primavera Autónoma das Estradas”, “Poesia, “Burlescas, Teóricas e Sentimentais”, “Titânia e a Cidade Queimada”, “O Virgem Negra”, “Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Naturais & Estrangeiros”.
          Recebeu o “Grande Prémio Vida Literária”, da Associação Portuguesa de Escritores.
        Foi galardoado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Doou, em vida, o seu espólio à Fundação Cupertino de Miranda.
 
                      Pastelaria
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura.
 
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio.
 
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante.
 
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício.
 
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola.
 
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come.
 
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
 
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora – rir de tudo.
 
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.
 
 
Mário Cesariny, in “Nobilíssima Visão”.
 
 
 
 

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