Pedro Tamen nasceu em Lisboa, no dia 1 de Dezembro de 1934.
Publicou o seu primeiro livro, em 1956, intitulado “Poema para Todos os Dias”.
Foi director- adjunto das revistas “Flama” e “Anteu”.
Tem colaboração em diversos jornais e revistas.
É tradutor de vários escritores, como Gabriel Garcia Marquez, Gustave Flaubert, Breton e Marcel Proust.
Em 1990, recebeu o “Grande Prémio da Tradução”. Além deste, ganhou: “Prémio D. Dinis”; “Grande Prémio da Crítica”; “Grande Prémio Inapa de Poesia”; “Prémio Bordalo Pinheiro da Imprensa”; “Prémio Literário do PEN Clube Português”, entre outros.
Em 1999, foi publicado “Escrita Redita”, um disco-antologia com poemas ditos por Luís Lucas.
Noé
Pronto, pronto, eu faço. Dá um trabalhão
mas faço. Corto madeira, arranjo pregos,
gasto o martelo. E o pior também:
correr o mundo a recolher os bichos,
coisas de nada como formigas magras,
e os outros, os grandes, os que mordem
e rugem. E sei lá quantos são!
Em que assados me pões.
Tu gastaste seis dias, e eu nunca mais acabo.
Andar por esse mundo, a pé enxuto ainda,
a escolher os melhores, os de melhor saúde,
que o mundo que tu queres não há-de nascer torto.
Um por um, e por uma, é claro, é aos pares
- o espaço que isso ocupa.
Mas não é ser carpinteiro,
não é ser caminheiro,
não é ser marinheiro o que mais me inquieta.
Nem é poder esquecer
a pulga, o ornitorrinco.
O que mais me inquieta, Senhor,
é não ter a certeza,
ou mais ter a certeza de não valer a pena,
é partir já vencido para outro mundo igual.
Pedro Tamen, in “Analogia e Dedos”.
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