terça-feira, 15 de outubro de 2013

PRÉMIO CAMÕES - 1990

 

         João Cabral de Melo Neto (1920-1999) nascido no Brasil, foi o segundo autor galardoado com o Prémio Camões, em 1990.

        Recebeu-o em Lisboa, em Outubro do mesmo ano.

            Durante os cinquenta anos de intensa actividade literária, João Cabral de Melo Neto publicou 18 livros de poemas e dois autos dramáticos: “Morte e Vida Severina” e “Auto do Frade”.

         É um dos nomes fundamentais da poesia brasileira, e da poesia de língua portuguesa.


             Tecendo a Manhã


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


João Cabral de Melo Neto

” Manuel Bandeira e Carlos Drummond são sujeitos de tal integridade que não foram corrompidos pela popularidade. Nem todo mundo tem integridade para resistir. Em geral, o sujeito acha bom e barateia a produção para ser agradável. Baixa o nível para ser agradável…”


João Cabral de Melo Neto

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