terça-feira, 3 de dezembro de 2013

MARIA VELHO DA COSTA

 


Maria Velho da Costa nasceu em Lisboa, a 26 de Junho de 1938.

        Ficcionista, ensaísta e dramaturga, é licenciada em Filologia Germânica pela Universidade de Lisboa.

Foi leitora do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros do “King´s College”, Universidade de Londres.

         Participou na Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Foi Adida Cultural em Cabo Verde e Adjunta do Secretário de Estado da Cultura em 1979.

        Dirigiu a revista literária “Loreto 13”.

        Colaborou em diversos argumentos cinematográficos.

Foi Presidente da Associação Portuguesa de Escritores.


        Maria Velho da Costa destaca-se como uma escritora de espírito renovador no panorama da literatura portuguesa. O seu primeiro romance “Maina Mendes", publicado em 1969, é um marco de mudança na ficção portuguesa contemporânea.

       “Novas Cartas Portuguesas” publicado em 1972, escrito em parceria com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, foi uma veemente crítica à deplorável condição social, política e humana da mulher na sociedade portuguesa.

        Recebeu diversos prémios, com destaque para o “Prémio Vida Literária” da APE, que lhe foi atribuído ontem, dia 2 de Dezembro. O Prémio exalta a sua criatividade, assim como o seu percurso literário.


 “Revolução e Mulheres”:

“Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano limpo. Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez. Elas esfregam o chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com os insectos a que não venham adoecer os seus enquanto dormem. Elas brigam nos mercados e praças por mais barato. Elas contam centavos. Elas costuram e enfiam malhas em agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da comida que elas fazem. Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de gravetos na cabeça. Elas limpam as pias e as tinas e as coelheiras e os currais. Elas acendem o lume. Elas migam hortaliça. Elas desencardem o fundo dos tachos. Elas passajam meias e calças e camisas e outra vez meias. Elas areiam o fogão com palha-de-aço. Elas calcorreiam a cidade a pé e à chuva porque naquele bairro os macacos são caros. Elas correm esbaforidas para não perder o comboio, o barco. Elas pousam o cesto e abrem a porta com a mão vermelha. Elas põem a tranca no palheiro. Elas enterram o dedo mínimo na galinha a ver se tem ovo. Elas acendem o lume. Elas mexem o arroz com um garfo de zinco. Elas lambem a ponta do fio de linha para virar a camisa. Elas enchem os pratos. Elas pousam o alguidar na borda da pia para aguentar. Elas arredam a coberta da cama. Elas abrem-se para um homem cansado. Elas também dormem.”

 
Maria Velho da Costa, in “Cravo”.                             

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