terça-feira, 28 de abril de 2015

EUGÉNIO DE ANDRADE – Um Amigo é às vezes o Deserto

 
 
 
 
 
 
 

Eugénio de Andrade (Póvoa da Atalaia, Portugal, 1923 – Porto, Portugal, 2005) foi poeta, escritor e tradutor.
Não integrou nenhum dos movimentos literários seus contemporâneos, porém, com espírito solidário, colaborou em diversas revistas a eles ligadas.
Em 1942 publica o seu primeiro livro de poesia, Adolescente.
Publicou mais de vinte livros de poesia, além de obras em prosa, antologias, livros para crianças e traduções para português de grandes poetas estrangeiros.
Na sua poesia existem três temas que são transversais na sua obra: o êxtase, a melancolia e o envelhecimento.
 
Palavras de Eugénio de Andrade:
"Caridade é uma palavra de flancos frios e águas estanques. Conduz sem grandes desvios ao mundo pantanoso e pervertido da repressão, onde a consciência que se diz virtuosa mais não faz que servi-lo, desinteressada como está em que a potencialidade humana se afirme em todo o seu esplendor."
 
 
Um Amigo é às vezes o Deserto
 
Um amigo é às vezes o deserto,
outras a água.
Desprende-te do ínfimo rumor
de agosto; nem sempre
 
um corpo é o lugar da furtiva
luz despida, de carregados
limoeiros de pássaros
e o verão nos cabelos;
 
é na escura folhagem do sono
que brilha
a pele molhada,
a difícil floração da língua.

O real é a palavra.
 
 
Eugénio de Andrade, in “Branco no Branco”
Imagem: retrato de Eugénio de Andrade, por Carlos Botelho.
 
 

 
 
 


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