quarta-feira, 29 de abril de 2015

SAINT-JOHN PERSE - Estreitos são os navios

 
 
 
 
 
 

Saint-John Perse (Guadalupe, Caraíbas, 1887- Giens, França, 1975), poeta e diplomata, é autor das obras mais talentosas da poesia francesa do século XX.

Exerceu funções diplomáticas em Pequim e em Xangai.

Publicou, em 1910, Éleges, o seu primeiro livro de poemas influenciados pelo Simbolismo, desenvolvendo, mais tarde, um estilo pessoal.

Recebeu o “Prémio Nobel de Literatura” de 1960, pelo conjunto da sua obra.

 


Palavras de Saint-John Perse:

"Em termos de teoria literária, nada tenho a dizer: nunca apreciei os cozinhados dos químicos."
 
 
Estreitos são os navios (fragmentos)


Estreitos  são os navios, como estreito o nosso tálamo.
Imensa a extensão das águas,  mais vasto o nosso império
Nas câmaras cerradas do desejo.

Entra o  Verão, que vem do mar. Somente ao mar diremosOs estrangeiros que fomos nas  festas da Cidade, e qual o astro subindo das festas submarinas
Que veio  uma noite, sobre o nosso tálamo, farejar o leito do divino.
Em vão a  terra próxima nos vai traçando a sua fronteira.
Uma única vaga através do  mundo, uma única vaga desde Tróia
Até nós vem rolando a sua anca.
No  muito grande largo, ao largo, longe de nós, outrora este sopro se  imprimiu…
E uma noite nas câmaras foi imenso o rumor: a própria morte,  nem ao som de búzios, de modo algum aí se faria ouvir!

Amai os  navios, ó pares apaixonados; e o mar alto no interior dos  quartos!

Uma tarde a terra chora os seus deuses, e o homem dá caça  às feras ruivas; as cidades usam-se, as mulheres sonham… Que exista sempre à  nossa porta
Esta alvorada imensa chamada mar  escol de largas asas e  levantamento armado, amor e mar do mesmo leito, amor e mar no mesmo leito.

 
Saint-John Perse, in “Estrofe”
Tradução: David Mourão  Ferreira
 

 


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