segunda-feira, 25 de maio de 2015

ANDRÉ BRETON - A Poesia

 
 
 



André Breton (Tinchebray, França, 1896 – Paris, França, 1966).

Foi poeta, ensaísta, crítico, editor e escritor.

Foi o mentor da revista “Littérature”.

No  Manifesto do Surrealismo , publicado em 1924, proclamou o não conformismo  e propôs a fórmula  de criação chamada automatismo psíquico , segundo a qual escreveu o romance   Nadja.

No Segundo Manifesto do Surrealismo , em 1930,  reafirmou a fidelidade  aos princípios do movimento.
 
 
 

Palavras de André Breton :
"Tudo nos leva a acreditar que existe um certo estado da mente em que vida e morte, o real e o imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, altura e profundidade não são mais percebidos como contraditórios."
 

                  A Poesia


A poesia como o amor faz-se na cama
Os seus lençóis desfeitos são a aurora das coisas
A poesia faz-se nas matas
Tem todo o espaço de que precisa
Não este mas o outro condicionado por
O olho do milhafre
O orvalho sobre a cavalinha
A lembrança de Traminer embaciada em bandeja de prata
Uma alta vara de turmalina sobre o mar
E a estrada da aventura mental
Que sobe a prumo
Pára e fica logo coberta de mato
Isto não se apregoa aos quatro ventos
Não é conveniente deixar a porta aberta
Ou chamar testemunhas
Os cardumes de peixes os bandos de melharucos
Os carris à entrada duma grande estação
As luzes das duas margens
Os sulcos do pão
A espuma da ribeira
Os dias do calendário
O hipericão
Acto de amor e acto de poesia
São incompatíveis
Com a leitura do jornal em voz alta
O sentido do raio de sol
O clarão azul que liga as machadadas do lenhador
O fio do papagaio de papel em forma de coração ou de laço
O batimento ritmado da cauda dos castores
A diligência do relâmpago
O arremesso de confeitos do alto de velhas escadas
A avalanche
A câmara dos sortilégios
Não cavalheiros não é a oitava Câmara
Nem os vapores da camarata ao domingo à noite
Os passos de dança transparentes por cima dos mares
A demarcação na parede dum corpo de mulher ao lançar de punhais As claras volutas do fumo
Os anéis do teu cabelo
A curva da esponja das Filipinas
Os nós da serpente vermelha
A entrada da hera nas ruínas
Tem todo o tempo à sua frente
O abraço poético como o abraço carnal
Enquanto dura Impede toda a fugida sobre a miséria do mundo


André Breton

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