sábado, 19 de dezembro de 2015

TOMÁS RIBEIRO - Bênçãos

 
 
 
 
 

Tomás Ribeiro (Parada de Gonta, Tondela, Portugal, 1831 – Lisboa, Portugal, 1901).

Escritor, dramaturgo, historiador, poeta, político e jornalista.
Foi uma figura destacada da vida portuguesa do século XIX.

A sua obra insere-se no romantismo português da Regeneração.

Foi amigo de Camilo Castelo Branco, de quem prefaciou várias publicações. Dedicou-lhe a obra Dissonâncias, editada em 1890.

O seu testamento dispunha o seguinte desejo: «Que quatro pobres me levem ao cemitério da circunscrição onde me finar, envolto numa simples mortalha, sem anúncios, sem convites, sem a menor pompa funeral.»

 
               Bênçãos
 
Bem hajas, oh luz do sol,
Dos órfãos agasalho e manto,
Imenso, eterno farol
Deste mar largo de pranto!

Bem hajas, água da fonte,
Que não desprezas ninguém!
Bem haja a urze do monte,
Que é lenha de quem não tem!

Bem hajam rios e relvas,
Paraíso dos pastores!
Bem hajam aves das selvas,
Música dos lavradores

Bem haja o reino dos céus,
Que aos pobres dá graça e luz!
Bem haja o templo de Deus,
Que tem sacramento e cruz!

Bem haja o cheiro da flor,
Que alegra o lidar campestre;
E o regalo do pastor,
A negra amora silvestre!

Bem haja o repouso à sesta
Do lavrador e da enxada;
E a madressilva modesta,
Que espreita à beira da estrada!

Triste de quem der um ai
Sem achar eco em ninguém!
Felizes os que têm pai,
Mimosos os que têm mãe!


Tomás Ribeiro, in “D. Jaime”

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