sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ANA MARIA BOTELHO - As portas do poeta

 
 
 
 
 

Ana Maria Botelho (Lisboa, Portugal, 1936).
Pintora, poetisa e escritora.
Após os primeiros conhecimentos de desenho livre e geométrico sob a orientação do Prof. Castilho, no Colégio das Dominicanas do Ramalhão, em Sintra (1949) continua os seus estudos em Paris (1950) no Instituto de Mortefontaine, onde sofre a atracção dos modernistas e sobretudo dos surrealistas.
Em 1952 regressa a Lisboa e frequenta os estúdios dos mestres João Reis e Eduardo Malta, aperfeiçoando o desenho e a técnica do retrato. Cinco anos depois, volta ao estrangeiro (Itália) e participa nalgumas exposições colectivas de juventude.
Até 1963, a sua actividade artística divide-se pelo triângulo Lisboa -Roma – Paris. Permanece mais acentuadamente nesta última cidade, tomando contacto com a sua vida literária e artística. Conhece, então, Paul Claudel e Albert Camus, relacionando-se ainda com outros nomes, e frequenta o estúdio de Jean Beauvoir.
Na Itália, estuda com o escultor Giacometti e lê os seus primeiros poemas a Mário Ungaretti.  Em 1964, com Carlos Borges de Castro, inicia grande produção artística, com mostras regulares e assíduas em galerias oficiais e particulares.
A sua primeira exposição individual realiza-se no SNI, e a segunda no Casino do Estoril.
Seguidamente, efectiva viagens de estudo aos Estados Unidos e Brasil, onde colabora como cronista e poetisa em diversos jornais brasileiros.
É a partir de 1968 que aparecem, em livro, os seus primeiros poemas com o título Varanda sem Casa, editado no Rio de Janeiro, e, em 1972, surgem outros poemas, em livro, Céu de Linho. É também nesse mesmo ano que dá a sua colaboração plástica à Exposição do IV Centenário da Publicação de Os Lusíadas, ilustra o livro de seu pai, O Encoberto dos Jerónimos, e executa doze gravuras a cores com originais adquiridos para a colecção do Museu da Marinha, em Lisboa.
Em 17 de Maio de 1973, inaugura a Galeria Centro, sua propriedade, com uma exposição, sob a designação genérica de O Vermelho, O Real e o Poético.
Os seus quadros fazem parte do acervo de vários museus de Portugal, Holanda, França, Dinamarca, Itália, Estados Unidos, Austrália, Vaticano, etc.

Em 2009, foi editado o livro, Ana Maria Botelho – Vida e Obra.


Fonte: Dicionário de Mulheres Célebres (excertos e adaptação)

 

 
********

 

No dia 27 de Janeiro de 2016, dia do seu aniversário, Ana Maria Botelho foi homenageada com o lançamento do seu livro de poemas, Passos da Minha Noite.

 
Palavras de Ana Maria Botelho:

“Estou em posição de descoberta. O rosto levantado para o fim do risco e no fim do risco a porta aberta.”

 

 As portas do poeta

 

O lume aceso
Da lareira alentejana
É também uma porta,
A voz da Florbela
É também uma porta,

A voz de Camões
É uma enorme porta

A Catedral de Milão
É uma porta
Que os turistas passam
Mas não sabem.

Nós poetas temos o conhecimento
Das portas
E sabemos que algumas
É só empurra-las,
Outras – abrem-se a pé de cabra
Outras não vale a pena bater à porta

Mas porta, Porta-Madeira,
Porta de fechar
E abrir casas,
Porta, assim, concreta
Palavra do dicionário,
Como essa da casa onde tu e eu vivemos provisoriamente

Essa porta é uma porta na cara.

Mas não penses que me importa!
Que me importa a porta-porta,
Essa coisa rectangular?!
- se tenho todas as tuas janelas.

 

Ana Maria Botelho, in “Passos da Minha Noite”
 
 
           Pintura de Ana Maria Botelho       
Homenagem a Itzhak Perlman (violinista israelita)
(óleo sobre madeira)
 
 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário