domingo, 17 de abril de 2016

CHICO DO CACHENÉ







CHICO DO CACHENÉ


A Adega Machado, na Rua do Norte, nº 91, em Lisboa, foi no início uma casa atabernada, aberta em 1939 por Armando Machado, violista do Solar da Alegria, com a ajuda do empresário Abel Fernandes e de Filipe Nogueira. 

Chamou-se então Barrete Verde e viria a prosperar, tal como a Adega Mesquita, graças ao contributo da mulher do proprietário, a cantadeira e excelente cozinheira Maria de Lurdes. 

Na Adega Machado existiu durante algum tempo um boneco feito por D. Tomás de Melo (Tom) – o Chico do Cachené  -, que certo dia, acusado de viver à custa duma mulher, foi “julgado” por iniciativa de um grupo de frequentadores da casa. 

A paródia, pretexto para uma opípara ceata, culminou com a absolvição do “réu”, que Linhares Barbosa, “juiz” da causa, declarou inocente, por se ter provado que era bom rapaz e … trabalhador!... 

Essa figura mítica do Chico do Cachené inspirou ainda a seguinte cantiga, com letra de António Vilar da Costa e música de Nóbrega e Sousa:


De chapéu às três pancadas
E cachené ao pescoço,
O Chico nas ramboiadas
Punha o bairro em alvoroço.

A mocidade, levou-a
O tempo ingrato consigo;
E o fado, que é seu castigo,
Todas as noites entoa
Naquele velho postigo
Donde namora Lisboa.

Ai Chico, Chico, do cachené,
Quem te viu antes e quem te vê!

Em tosca mesa de pinho
Tem sardinheiras num jarro,
Uma botija com vinho
E um Sant´António de barro.

Junto de velho cachené
E dos calções à Marialva
Guarda o leque cor de malva
Da cigana Salomé
Por quem o Chico, na Agualva,
Numa tasca armou banzé.

Na parede, entre dois pares
De bandarilhas vermelhas,
A jaqueta d´alamares
E o chicote das parelhas.

Lá tem a cinta e o barrete
Que ornamentavam, mesmo à entrada,
A cabeça embalsamada
Do famoso Ramalhete,
Que lhe deu luta danada
Numa pega em Alcochete.

Quando a saudade o visita
E há mais sol na sua vida,
Tira dum saco de chita
Uma guitarra partida.

Depois dum copo de vinho
Seus olhos são toutinegras.
Ai! Tornam-se negras, negras,
As melenas cor de arminho
E ali, com todas as regras,
Chorando, canta baixinho.

Ai Chico, Chico, do cachené
Quem te viu antes e quem te vê!




Fonte: Lisboa, o Fado e os Fadistas  - Eduardo Sucena


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