domingo, 22 de maio de 2016

PREGÕES MATINAIS







         PREGÕES MATINAIS


Passo às vezes na cama um dia inteiro
De papo para o ar, como um madraço…
Fumando qual filósofo ou palhaço,
– Sem mulher… sem cuidados… sem dinheiro!

É de manhã então que me é fagueiro
Ouvir trinar no cristalino espaço
Um pregão mais macio que um regaço,
Que se esvai a carpir… como um boieiro…

De manhã é que passa a leiteirinha,
Com seu pregão chilrado de andorinha,
Passam varinas de gargantas sãs…

E ao escutar tais cantantes semifusas,
Eu creio que oiço ao longe as frescas Musas,
– A vender uvas e a pregoar maçãs.



Gomes Leal, poeta e crítico literário (Lisboa, Portugal, 1848 – 1921).

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