sábado, 23 de julho de 2016

GUILHERME DE FARIA - Não vale a pena





Guilherme de Faria (Guimarães, Portugal, 1907 – Lisboa, 1929).

Publicou o seu primeiro livro, Poemas, em 1922, com quinze anos apenas. Morreu aos vinte e dois. 

E tanto o seu primeiro livro como os que se seguiram, Mais Poemas, Sombra, Saudade Minha, Destino, Manhã de Nevoeiro e Desencanto, além do publicado postumamente, Saudade Minha – Poesias Escolhidas, dir-se-à que todos eles reflectem o prenúncio da morte próxima, tal a predisposição melancólica, a contemplação, o ensimesmamento em que mergulhou.



in “Dicionário de Literatura”



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           Não vale a pena 


Viver sentindo n’alma o fogo ardente
Da mais alta ambição, que nos condena
A lutar, a sonhar eternamente,
— Não vale a pena…

Viver na febre intensa dos desejos
E sonhos da luxúria que envenena
As almas, ao calor de falsos beijos,
— Não vale a pena…

Viver cantando, d’alma leda e pura,
Versos ao som de pastoril avena,
Longe da vida tão hostil e escura,
— Não vale a pena…


Viver para o meu Amor — Vida e Doçura! —
Doce mulher cheia de graça, plena
Do mais divino amor e formosura,
— Não vale a pena…

Não vale a pena… É vão todo o desejo.
— E para quê sonhar, nesta amargura,
Acesa a luz da esperança, que eu não vejo,
E ter sonhos, quimeras a sorrir,
— Se, para além da humana desventura,
Tenho o leito da eterna sepultura,
Para fechar os olhos e dormir?…


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