quarta-feira, 31 de agosto de 2016

LEITÃO DE BARROS – Cineasta





Leitão de Barros (Lisboa, Portugal, 1896 – 1967).

Terminado o curso da Escola Normal da Escola Superior da Universidade de Lisboa, foi nomeado professor dos liceus. 

Como pintor cultivou a aguarela, vindo a optar, em 1918, pela carreira de cineasta para a produtora Lusitânia Filmes. 

Foi cenógrafo nas peças de Amélia Rey Colaço e no teatro de revista. 

Criou com estrondoso êxito as marchas populares (1932), encenou desfiles históricos e foi secretário-geral da "Exposição do Mundo Português". 

Em 1934 criou, com Mimon Anahory, a Feira Popular de Lisboa. 

Director de "O Século Ilustrado", manteve no "Diário de Notícias" a sua secção «Os Corvos» que reuniu em dois volumes. 

Vários dos seus filmes são datas marcantes da cinematografia portuguesa: Lisboa, Crónica Anedótica, 1929, Maria do Mar, 1930, A Severa, 1931, (primeiro filme sonoro português), Maria Papoila, 1937, Ala-Arriba!, 1942 (galardoado na Bienal de Veneza), Bocage, 1936, Inês de Castro, 1945, e Camões, 1946.



in “Portugal Século XX”.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

JESÚS LIZANO - Ode às mulheres que querem ser soldados





Jesús Lizano (Barcelona, Espanha, 1931 -2015).

Foi licenciado em Filosofia. 
Defendeu o que denominava o Misticismo Libertário, a evolução desde o Mundo Real Selvagem para o Mundo Real Poético.

Publicou mais de vinte livros de poesia e foi um destacado pensador anarquista. 
Colaborou na revista libertária “Polémica”, editada em Barcelona.


in “Escritores”


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Palavras de Jesús Lizano:
“Sou anarquista poético: o meu mundo não é deste reino.”




Ode às mulheres que querem ser soldados


Aos quartéis!
Enchei de filhos os quartéis!
Que se misturem os filhos nos desfiles!
Que brinquem com as armas e as munições!
Que as desmontem e confundam!
Que interrompam
as arengas dos coronéis!
Sim, sim, vós!
Passai as noites nas guaritas da guarda!
Levai à cantina os alferes!
Multiplicai os altifalantes!
À carreira de tiro! Descei à carreira de tiro com a merenda
e estendei as toalhas! Toalhas!
Toalhas!
E tapai de queijo os fuzis
ensaiando mil toques novos de corneta.
Que se ponham loucos todos os capitães!
Que dancem até se desconjuntarem os corneteiros!
Estendei as roupas na Sala de Comando!
Desfilai! Desfilai
mostrando os vossos encantos!
Isso! Isso! Soldados!
E logo, aos templos! Há muitos templos!
Enchei de criaturas os templos!
Que brinquem às escondidas pelos armários, pelos sítios recônditos!
Que se disfarcem com as fardas e os lençóis!
Incenso! Muito incenso!
Ide às procissões com os vossos pratos e caçarolas
e que se espalhe pelos armazéns
o cheiro a ovos fritos e a borrego!
A mãe do borrego!
Ala! Ala!
Cumpri a longa marcha até aos bancos!
Confundi todos os códigos!
Acelerai os ventiladores!
Que voem todos os arquivos e se perdam todos os créditos!
Casai-vos com os banqueiros!
Com os presidentes de câmara! Com os acionistas!
Enchei com o vosso perfume e o vosso encanto os ministérios!
Levai as meias ao hemiciclo!
Nem luz nem estenógrafas!
Luz? Estenógrafas?
Sim, seres maravilhosos que quereis ser soldados!
Às escolas! Às escolas!
Ponde as patas em cima das geografias e das histórias!
As regras!
Seduzi os catedráticos!
À Aula Magna! À Aula Magna!
E passeai nuas e revestidas com as suas togas!
Pari nos Conselhos de Ministros!
E nas loggias! E nas Academias!
Recebei as vossas amigas nas Academias!
Nas Reais Academias!
Salvai da ordem o mundo!
Começará um tempo novo
e voltaremos à selva!
E assim terminará este ciclo tão antigo
quando Eva, desta vez, devolva ao género humano o
Paraíso!



in “O Engenhoso Libertario”

Tradução: Carlos d’Abreu

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

NUNO BRAGANÇA - Escritor





Nuno Bragança (Lisboa, Portugal, 1929 – 1985).

Começou por frequentar o curso de Agronomia, mas cedo dele desistiu, transitando para o curso de Direito, que completou em 1957. A partir de 1955, integra a equipa do jornal Encontro (órgão da JUC - Juventude Universitária Católica), onde publicou os seus primeiros textos literários.

Toda a obra do escritor foi reunida num único volume com o título Obra Completa. Inclui, para além dos romances Square Tolstoi, Directa e A Noite e o Riso, este último publicado em 1969 e considerado um livro decisivo para a nossa modernidade literária, a recolha de contos a que o autor deu o nome Do Fim do Mundo, a novela póstuma Estação e a peça de teatro radiofónico, até agora inédita em livro, A Morte da Perdiz.

Nuno Bragança, um dos nomes mais destacados da ficção portuguesa da última metade do século XX, é sem dúvida um dos mais geniais ficcionistas portugueses e que no “Jornal do Fundão”, até ser impedido pela censura, assinou nos anos 60 uma notável Crónica Internacional, não pode cair no esquecimento.



in ”Jornal do Fundão”




domingo, 28 de agosto de 2016

CONFERÊNCIAS CIENTÍFICAS – O Corpo humano – A cabeça






CONFERÊNCIAS CIENTÍFICAS
(para os alunos dos liceus)

O corpo humano – A cabeça


A cabeça no corpo humano é, meninos e meninas, aquela parte arredondada e cabeluda que pega com o resto do corpo por meio do pescoço. Não é difícil de conhecer, pois que não se confunde em geral com as outras partes; além disso, contando-se de cima para baixo ela é a primeira, e de baixo para cima é a última.

As características do arredondado e do cabeludo podem não ser suficientes, porquanto há outros órgãos redondos e a cabeça careca não costuma ter cabelo; mas a ordem natural que deixo indicada não falha nunca, se o corpo está na posição normal.

Compôe-se a cabeça de crânio e face. O crânio encerra o que vulgarmente se chama mioleira, substância de composição pouco conhecida, sabendo-se, entretanto, que na de algumas pessoas predomina a areia, na de outras a pederneira, o lixo, etc. Há crânios completamente desprovidos de mioleira, e não são esses os mais raros; pertencem, com poucas excepções às pessoas felizes, mais conhecidas por tolas.

A cara tem várias denominações, segundo os indivíduos que a possuem ou as circunstâncias em que se apresentam: há as caras direitas ou unhacas, as caras estanhadas, as caras de caso, etc. Todos sabem que os acidentes principais da cara são a testa, os olhos, o nariz, as maçãs do rosto, a boca, o queixo e as orelhas. 

Nota-se imediatamente que destes acidentes três são aos pares: os olhos, as orelhas e as maçãs, o que se explica porque o homem necessita de ver e ouvir bem, assim como apanhar o seu par de bofetadas de vez em quando.

Duas bocas, por exemplo, seriam de mais, sobretudo neste tempo, em que para se satisfazer uma só, se gastam rios de dinheiro; dois narizes também arrastariam vários inconvenientes, entre eles o de duplicar a entrada das partículas mal cheirosas espalhadas na atmosfera, o que em Lisboa seria, decerto causa de incidentes fatais.

Eis o que hoje se me oferece dizer com respeito à cabeça humana. O órgão insignificante – a cabeça de porco, por exemplo, é muito mais apreciada – e cuja ausência seria para o género humano de decidida vantagem, conforme se deduz do conhecido pregão: quem não tem cabeça não paga nada. Tenho dito.


       Bonaparte
(Aluno do liceu Camões)


in  “Século Cómico”,  suplemento humorístico do jornal “O Século” - 1916


sábado, 27 de agosto de 2016

ANTÓNIO MARIA LISBOA - Que pensar destes poemas





António Maria Lisboa (Lisboa, Portugal, 1928 – 1953).

Foi com Mário Cesariny de Vasconcelos o iniciador do movimento surrealista em Portugal, tendo colaborado, em 1949, na primeira manifestação pública do Movimento Surrealista e na Primeira Exposição Surrealista Portuguesa.

Publicou em 1952 a conferência-manifesto Erro Próprio. Esteve por duas vezes em Paris (1949 e 1951), onde se iniciou nas práticas ocultistas. 

Colaborou no jornal “República” e na revista “A Árvore”.
Publicou os volumes de poemas Ossóptico, Isso ontem Único e Afixação Proibida.
Vieram a lume, póstumos, A Verticalidade e a Chave, Exercício sobre o Sonho e a Vigília de Alfred Jarry, seguido de O Senhor Cágado e o Menino.

A forma automática da sua produção poética esconde um lirismo de profunda e visionária seriedade. 


in "Portugal Século XX".



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             Que pensar destes poemas


Que pensar destes poemas: mundo sem classificações,
esquemas, meios diversos e opostos de ser e conhecer,
de se comportar e fazer comportar, de amar e ser amado,
pulverizando as escalas, aparências,
arbitrariedades dialécticas do Bem e do Mal,
da sua reversibilidade, da sua interconexão?

- Porque funde num só corpo:
porque contém a Lei e contém o que destrói a Lei,
é o Paradoxo a forma do Saber Oculto.



in “A Verticalidade e a Chave”


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

DEDICATÓRIA







DEDICATÓRIA



Os poetas clássicos latinos como Horácio, Virgílio e outros, utilizaram a Dedicatória para exprimir os seus sentimentos de gratidão ou admiração a outro ou por outro.
No primeiro caso, a alguma personalidade ilustre, e no segundo, por algum talentoso génio com quem mantinham afinidades literárias.

A Dedicatória tanto pode ser em prosa como em verso, e é impressa no princípio do livro.

Floresceu em Portugal durante os séculos XVI e XVII, e ainda hoje é frequente em autores que desejam exprimir a outrem o seu sentimento de afecto ou de outra natureza.

Também se designa por Dedicatória uma das partes construtivas da estrutura do poema épico.



in "Literatura Portuguesa"
Imagem: Livro com dedicatória




quinta-feira, 25 de agosto de 2016

GRAÇA BARROSO – Bailarina






Graça Barroso (Portugal, 1950 - 2013

Uma das maiores artistas da dança portuguesa – e seguramente a melhor da sua geração.

Bailarina de fino recorte técnico e artístico, começou por estudar dança com Helena Miranda tendo, posteriormente, ingressado na classe de ginástica rítmica do Sporting Clube de Portugal. Daí o seu porte atlético apesar de possuir uma figura bastante frágil. 

Voltou a interessar-se pelo bailado, anos mais tarde, tendo regressado aos estúdios nas classes dos ingleses Anna Ivanova e David Boswell, na chamada Escola do Teatro de S. Carlos (entre 1965 e 1967).

Entrou para o Grupo Gulbenkian de Bailado, em 1968, sob a direcção de Walter Gore, tendo ascendido à categoria de solista na temporada de 70-71.

Dançou papéis principais em obras do reportório clássico, de Carlos Trincheiras (“Amor de Perdição”) e de Lar Lubovitch (“Messias”), entre outros.

Em 1971 deixou Portugal a fim de estagiar, como bolseira da Fundação Gulbenkian, na escola da conhecida professora norte-americana Rosella Hightower, em Cannes. Aí permaneceu cerca de um ano antes de integrar o elenco do Ballet de Estrasburgo (1972), então dirigido por Jean Babilée. Nessa companhia criou papéis em obras de Babilée e, antes de regressar definitivamente a Portugal em 1974 após a “revolução dos cravos”, actuou em vários países da Europa com o Grupo Jovens Solistas de França.

No Verão de 1974 interpretou a Princesa Florina no bailado “A Bela Adormecida”, no Teatro Nacional de S. Carlos, numa produção de Anna-Marie e David Holmes, directores dos Cursos de Verão da Costa do Sol. Na temporada de 74-75 retoma o seu lugar no Ballet Gulbenkian, tendo sido promovida a primeira bailarina em 1977.
Naquela companhia foi um dos seus elementos mais activos num período de grandes convulsões dentro da Fundação tendo contribuído, em muito, para o afastamento do então director, o esloveno Milko Sparemblek. 

Durante a sua carreira de bailarina foi distinguida com alguns dos mais importantes prémios de interpretação para o bailado nacional: Prémio da Imprensa, 1971 e 1981, Prémio Nova Gente, 1981 e Prémio Revista Mulheres, também em 1981.

Reformou-se do Ballet Gulbenkian em 1993, tendo começado a dar aulas na Escola Superior de Dança, dois anos depois. Nessa instituição permaneceria quase década e meia.

Com o seu companheiro Vasco Wellenkamp fundou, em Janeiro de 1997, a Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, que ambos dirigiram.



in “Revista da Dança”




quarta-feira, 24 de agosto de 2016

XOSÉ NEIRA VILAS - Formigas




Xosé Neira Vilas (Pontevedra, Galiza, Espanha, 1928 - 2015).

Foi membro numerário da “Real Academia Galega”, “Doutor Honoris Causa” pelas universidades da Corunha e de Havana. (…)

É um dos escritores clássicos da literatura galega.

Emigrou para a Argentina en 1949, onde foi jornalista. Foi Secretario da Comisión Organizadora do histórico “Congresso da Emigração Galega”. Casou com a escritora cubana, de ascendência galega, Anisia Miranda, em 1957. Juntos fundaram nesse mesmo ano “Folhas Novas”, editora e distribuidora do livro galego no continente americano.

Colaborou na imprensa galega de Buenos Aires e publicou nessa cidade a colectânea de poemas Dende lonxe, em 1960, e a novela Memórias dun neno labrego, en 1961, ano em que Neira e Anisia vão viver para Cuba. Alí funda e dirige a “Secção Galega do Instituto de Literatura e Linguística”. 

Foi durante seis anos chefe de redacção da revista infantil “Zunzún”.




In “Fundacion Xosé Neira Vilas”.




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FORMIGAS
  (poema infantil)


Unha formiga leva,
outra formiga trai.
Todas xuntas carrexan e carrexan.
Tralarai.

O monte ponse escuro
cando a noitiña cai,
pero segue a medrar o formigueiro.
Tralarai.

Están ledas por teren,
tras de tanto fai fai,
unha casa de seu feita por todas.
Tralarai.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

HENRIQUETA LISBOA - A menina selvagem





Henriqueta Lisboa (Lambari, Minas Gerais, Brasil, 1901 – Belo Horizonte, Brasil, 1985).

A sua trajectória poética teve início em 1925, com a publicação do livro, Fogo Fátuo, de forte tendência simbolista, traço significativo da sua obra que se estenderá até a década de 1940. 

Em 1931, com o livro Enternecimento, recebeu o Prémio de Poesia Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras.

Foi considerada pela crítica especializada da época como uma das grandes expressões da lírica moderna.

A sua produção intelectual se caracterizou pelo exercício da tradução, da publicação de ensaios literários, da organização de antologias e da participação em obras colectivas.

Em 1963 é eleita a primeira mulher para a Academia Mineira de Letras, conquista profissional seguida da outorga de vários títulos honoríficos.



in “Universidade Federal de Minas Gerais” 


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                     Palavras de Henriqueta Lisboa:
“Pago caro o orgulho”



         A menina selvagem

A menina selvagem veio da aurora
acompanhada de pássaros,
estrelas-marinhas
e seixos.
Traz uma tinta de magnólia escorrida
nas faces.
Seus cabelos, molhados de orvalho e
tocados de musgo,
cascateiam brincando
com o vento.
A menina selvagem carrega punhados
de renda,
sacode soltas espumas.
Alimenta peixes ariscos e renitentes papagaios.
E há de relance, no seu riso,
gume de aço e polpa de amora.

Reis Magos, é tempo!
Oferecei bosques, várzeas e campos
à menina selvagem:
ela veio atrás das libélulas.


in “Lírica”



segunda-feira, 22 de agosto de 2016

GRAHM GREENE - Escritor






Grahm Greene (Berkhamsted, Inglaterra, 1904 – Vevey, Suíça, 1991).

Iniciou a vida de jornalista, em Nottingham, tendo sido secretário da direcção do Times, crítico de cinema, director literário em jornais e editoras.

O seu primeiro romance, The Man Within, apareceu em 1929, a que logo outros se seguiram, surgindo entretanto, em 1935, uma colectânea de contos, The Basement Room, acompanhada nesse mesmo ano, por England made me, novela de «corrente de consciência».

Ainda de 1935 é uma viagem à Libéria, fonte do volume Journay Without Maps. De 1938, é uma viagem ao México, como repórter, que testemunha a perseguição religiosa, ao tempo vigorosa, que inspirará The Lawless Roads e, sobretudo, The Power and Glory, um dos seus grandes romances.

Grahm Greene é autor de uns 30 volumes, entre romances, entertainments, peças de teatro, colectâneas de contos e novelas, livros de ensaios e livros para crianças. 



in "Enciclopédia de Cultura"


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Palavras de Grahm Greene:

“Preferiria ter sangue nas mãos a ter água como Pôncio Pilatos.”

                         

domingo, 21 de agosto de 2016

PÁGINA FEMININA – Seja graciosa







SEJA GRACIOSA



Uma mulher muito linda que não tenha gestos graciosos perde cinquenta por cento.

O andar tem que ser harmonioso, lembrando os versos de La Fontaine:
Légére et court vêtue, elle allait à grands pas,
Ayant mis ce jour-la, pour être plus agile, Cotillon court et souliers plats.

Não precisa de usar saltos rasos mas também, se forem altos de mais, será difícil equilibrar-se.


Ora vejamos como deve estar quando em pé:

- Cabeça direita.
- Barriga para dentro.
- Seio bem colocado com os ombros para trás.


Agora ao andar:

- Ao deitar a perna para a frente, o joelho, estará retido, para só se distender quando o pé toca no chão.
- Pés paralelos, nem muito para dentro nem muito para fora.
- Não balouçar as ancas, pois dá aspecto ordinário.
- O busto deve estar coleante mas tranquilo. Há mulheres que parece falarem com os ombros numa agitação contínua.



E ao sentar-se:

- Se é gorda, não se espapace quando se senta.
Faça-o num gesto preciso e uniforme, mas sem rigidez.
- Sente-se de forma bem assente e mantenha as costas direitas.
- Fuja das poltronas muito baixas e moles que comprometem a respiração, curvam as costas e suprimem a graça geral do corpo. Não falando na dificuldade do levantar.
- Manter os joelhos juntos.
- Não cruzar nunca a perna (mesmo quando estiver de pijama) com o tornozelo duma perna a tocar no tornozelo da outra.
- A forma mais graciosa de estar sentada, é cruzando as pernas e conservando os pés no mesmo alinhamento. Vigiar as saias. Ou então ficar com os dois pés no chão e corpo bem chegado às costas da cadeira.




in “Mundo Gráfico” (1940–1948), revista quinzenal de “actualidades nacionais e internacionais. “Página Feminina” de autoria de Aurora Jardim- 1941. 

Imagem: pintura de Amedeo Modigliani 

sábado, 20 de agosto de 2016

LUÍS ANTÓNIO VERNEY – Filósofo, teólogo e professor







Luís António Verney (Lisboa, Portugal, 1713 – Roma, Itália, 1792).

Figura cimeira do iluminismo português, efectuou os primeiros estudos no Colégio jesuíta de Santo Antão. Aluno de Filosofia no curso dos Oratorianos (1727-1730), viria a alcançar o bacharelato já na Universidade de Évora (1731) e o grau de licenciado e Mestre em Artes pela mesma Universidade em 1733.

Porventura incompatibilizado com o ensino então ministrado nas escolas da Companhia de Jesus, fixou-se em Roma, aos 23 anos, desenvolvendo, fora da Pátria e até ao fim da sua vida, uma intensa actividade intelectual, com a generosa intenção de reformar o ensino e a mentalidade cultural em Portugal, podendo considerar-se a publicação do seu Verdadeiro Método de Estudar (1746), tanto pelo conteúdo como pela polémica gerada, como um dos mais dinâmicos factores de sistematização do ideário iluminista entre nós. (…)

Crítico de Descartes no âmbito da origem das ideias, Verney revelou-se um cartesiano no plano da Gramática. As suas diatribes contra o ensino do Latim pelo compêndio já bissecular do P. Manuel Álvares S.J., levaram-no a expressar, na Gramática Latina tratada por um método novo claro e fácil (1758), a concepção de uma ordem natural das palavras na sintaxe, comum a todas as línguas, tese nuclear das gramáticas cartesianas do séc. XVII, como também da gramática generativa contemporânea.

Aquilo a que chamará «a parte filosófica da gramática» consiste, pois, no estudo dos «princípios gerais e inalteráveis» comuns a todas as línguas, nos quais deveria assentar uma boa estratégia de ensino do Latim. Tais princípios emanavam da «conexão essencial das palavras com os pensamentos lógicos». Ora, «sendo pois a ordem natural e lógica dos pensamentos a mesma em todos os homens», segue-se que «todas as línguas têm a mesma ordem natural de sintaxe», sendo meramente «acidental» a diversidade que nesse plano se verifica, nomeadamente no latim. (…)

Situando-nos do lado da questão da reforma dos métodos de ensino, outro eixo do seu pensamento, ela concentra-se em torno do conceito de «método», designação que incluiu no título da sua obra mais conhecida. (…)

Por «método» Verney entende, como era comum na época, uma ordem de disposição das ideias no discurso. Neste âmbito, tenderá a cristalizar como ordem de transmissão dos conteúdos de ensino, adaptada aos mecanismos naturais de recepção das ideias, no quadro mais vasto de uma lógica natural. (…)

Essa ordem encontrou-a na geometria e no método sintético dos geómetras, caminhando do simples ao complexo, do geral ao particular, das causas para os efeitos, como procedimento privilegiado de simplificação da exposição doutrinal e, porque definido a partir do conhecimento dos mecanismos de que a razão naturalmente se serve na recepção das ideias, entendido como «método natural».



Fonte: Instituto Camões