sexta-feira, 19 de agosto de 2016

SEBASTIÃO ALBA - A um filho morto






Sebastião Alba (Braga, Portugal, 1940 -2000).


Foi durante muitos anos para Moçambique e de lá regressou à Bracara Augusta em 1981, onde adoptou a errância libertária como modo de vida até 14 de Outubro, dia em que morreu atropelado na rodovia. Tinha 60 anos e três livros de poesia publicados.

De ascendência transmontana, tendo ido buscar o pseudónimo ao nome dos pais Sebastiana e Albano, cedo foi para a colónia ultramarina, onde casou com uma mestiça e se tornou professor, jornalista, poeta e administrador fugaz da província da Zambézia.

Antes, porém, desta actividade múltipla, desertou da tropa ao segundo dia, foi preso e torturado durante dois anos. Com a agudização da crise política moçambicana, regressa com a família a Braga, habita um pequeno apartamento e chega a colaborar com o "Correio do Minho". (…)

A arte poética evidenciada em A Noite Dividida, Ritmo do Presságio e O Limite Diáfano coloca Sebastião Alba numa posição cimeira da cultura literária bracarense, ao lado de outros grandes vates locais, que têm nobilitado o bom nome da cidade de Braga, intra e extra-muros.

Para o poeta Rui Knopfli o verbo de Sebastião Alba é apanágio de muito poucos poetas, tanto mais que assumiu a condição de ser despojado e desprendido, própria dos espíritos que se dão à Arte, o mesmo é dizer à Humanidade, sem esperar outro retorno que não seja de ordem espiritual.



in “A Biblioteca do Macua”. (excertos)



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             A um filho morto


Ontem a comoção foi da espessura dum susto
duma árvore correndo
vertiginosamente para dentro do desastre

E já não choramos. Passamos
sem que o mais acurado apelo
nos decida

Nas camisas
teu monograma desanlaça-se.
Tua mão vê-o nos céus nocturnos
sabe que há uma ígnea
chave algures

Minha tristeza não tem expressão visível
como quando a chuva cessa
sobre a dádiva fugaz do nosso sangue
que hoje embebe a terra

É tal a ordem em nós
que um odor a bafio sai de nossas bocas
e uma teia de aranha interrompe o olhar
que te envolveu em vão.




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