terça-feira, 27 de dezembro de 2016

SOMBRA




                
Sombra


Aqui estás de novo perto de mim
Lembranças de meus companheiros mortos na guerra
A oliva do tempo
Lembranças que formam uma só
Assim como cem peles formam um só casaco
E centenas de feridos só fazem uma notícia
de jornal
Aparência impalpável e sombria que havias tomado
A forma cambiante de minha sombra
Um índio à espreita por toda a eternidade
Sombra tu rastejas perto de mim
Mas já não me olhas nem me ouves
Não conhecerás os poemas sublimes que canto
Enquanto sou eu quem os digo e os vejo
Destinos
Sombra múltipla que o sol te guarda
Tu que amas o suficiente para não me deixar nunca
E que danças ao sol sem levantar poeira
Sombra tinta do sol
Escritura de minha luz
Arcão de penas
Um deus que se humilha



Guillaume Apollinaireescritor, poeta e crítico de arte (Roma, Itália, 1880 – Paris, França, 1918).
Tradução: André Dick
Imagem: pintura de Sousa Lopes (Leiria, Portugal, 1879 – Lisboa, 1944).


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