terça-feira, 17 de janeiro de 2017

ALCIONE SORTICA - Raio de luz





ALCIONE SORTICA 
(Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil,1935)
Escritor, ensaísta e poeta

É um escritor premiado pela sua obra literária de carácter urbana e regionalista, apresentada em contos, crónicas e poesias. Além da distinção no estudo da língua portuguesa e da literatura brasileira, completou seus conhecimentos com o francês, o inglês e o latim, línguas comuns ao ensino da época.

A partir de 1969 passa a dedicar-se às artes: inicialmente música e pintura. Em 2000, com o nascimento da sua primeira neta – Stephanie – a literatura começa a tomar forma.

O poema Raio de Luz, publicado no “Jornal RS Letras”, deu início à sua efectiva vida literária. 
Velhos escritos são desengavetados, outros novos vão surgindo, entre contos, crónicas, ensaios e poemas. 

Das inúmeras viagens surgiram as crónicas da série Histórias de Viagens
Em 2005, publicou seu primeiro livro Cacos do Tempo, com prefácio do amigo e também escritor Nelson Fachinelli. 

Com mais de 100 participações em revistas, jornais, antologias e colectâneas cooperativadas nacionais e internacionais, sua obra literária conquistou vários prémios.


in” Página Oficial de Alcione Sortica” (excertos)


Palavras 
de 
Alcione Sortica
“Se me entendo na minha anarquia, não tentes organizá-la. Respeite a bagunça alheia.”



Raio de luz


Se a única realidade é o passado,
onde está a criança que nasci,
o jovem que usou meu cérebro para sonhar,
o homem que fui ontem, hoje de manhã,
há apenas um segundo?
Só estiveram, amaram, riram ou choraram,
num pedaço qualquer do tempo,
mas lá não estão mais.
E se a certeza é o futuro,
quem será e onde estará
o homem, que serei daqui a instantes,
amanhã de manhã, até mais não sei quando?
Tal e qual o menino do passado,
também não consigo encontrá-lo.
Ambos não morreram,
mas nenhum existe.
Somos, na realidade,
uma infinidade de seres diferentes,
a cada avanço milimétrico do tempo,
revelando o ser confuso,
mágico, incompreensível,
que somos no momento.
Na velocidade incomensurável da luz,
a terra desloca-se no universo,
atrelada à galáxia.
E você, que leu este poema até o fim,
já está a milhões de quilómetros do princípio,
e não é a mesma pessoa que alguém viu ou conheceu.
  


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