sábado, 21 de janeiro de 2017

ANTÓNIO PEDRO - Auto-Retrato





ANTÓNIO PEDRO
(Cidade da Praia, Cabo Verde, 1909 – Moledo do Minho, Portugal, 1966).

Encenador, poeta, dramaturgo e artista plástico


Personalidade multifacetada, generoso e versátil, foi pintor nos anos 30 e 40 e responsável pela ruptura então processada dentro do modernismo português: a proposta surrealista apresentada em 1940 com Dacosta e Pamela Boden, em exposição na Casa Repe, em Lisboa. 

Integra em 1947 o grupo surrealista de Lisboa, com o qual expõe pela última vez pintura em 1949. No mesmo ano assume em Lisboa a direcção do Teatro Apolo. 

Inicia em 1950 o seu exílio voluntário em Moledo do Minho, praticando cerâmica e envolvendo-se no campo teatral, tendo sido director, figurinista e encenador do Teatro Experimental do Porto (1953-1961).

Ensaísta e crítico de arte, cronista da BBC em Londres em 1944-1945, deixou vasta obra publicada. A ele e a Tom se ficou a dever também a organização da primeira galeria de arte moderna em Portugal, a UP, ao Chiado.

Grande parte da sua produção de pintor pereceu num incêndio do atelier em 1944. 
Está representado no Museu da Fundação Gulbenkian.

Algumas das suas obras mais importantes: Os meus sete pecados mortais, Devagar, Máquina de Vidro, Poemas au Hasard, Onze Poemas Líricos de Exaltação, Protopoema da Serra de Arga, Pequeno Tratado de Encenação.


in “Grande Livro dos Portugueses”


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Palavras
de
António Pedro
“A poesia precisa cada vez menos de palavras. A pintura precisa cada vez mais de poesia.”


           Auto-retrato


Mago de me fazer história e guerra,
Capaz em cada imagem de servir
A minha imagem d’oiro que um porvir
Breve desfaz e n’outra imagem se erra,

Ou louco de temer-me, pela serra
Árvore doida em transe de florir
Mãos como frutos, e olhos a dormir
Ao marulho das ondas, sobre a terra,

Quero-me, tonto, a tornar exacto e certo,
Quotidiano e vil, como suponho
Tão necessário que se seja, aquilo

Que ultrapassando o limiar incerto
Do que é em suave (de divino) trilo
Recria em mundo o que nasceu num sonho.



in “Casa de Campo”


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