OSSIP MANDELSTAM
(Varsóvia, Polónia,
1891- Gulag, 1938)
Poeta
Foi um dos maiores poetas russos. A sua obra
tornou-se um dos pináculos da literatura russa e o seu trágico destino foi
símbolo de toda uma geração. Ele viveu durante 47 anos, travou amizade com
Nikolai Gumiliov, Marina Tsvetáeva, Anna Akhmátova, Borís Pasternak, tornou-se
inimigo de Estaline e morreu num campo de trânsito estalinista para
prisioneiros, sem obituário ou sepultura.
A partir de 1912, o poeta começou a
participar no círculo literário dos acmeístas.
Algumas das suas obras: A Pedra, Tristia, O Rumor do Tempo, O
Selo Egípcio, Viagem à Arménia.
in "Universidade de Coimbra" (extracto)
***
EPIGRAMA
Sem sentir o país sob os pés, vivemos,
Nossa fala é contida e sem extremos.
Mas onde quer que se cochiche apenas
O montês do Kremlin entrará em cena.
Seus dedos são grossas e gordas larvas
Mas certas, feito o aço, são suas palavras.
O bigode é uma risonha barata
Enquanto o brilho da bota arrebata.
Em meio a uma horda de pescoços finos,
Negoceia com favores aos cretinos.
Quem assobia, quem mia, quem choraminga,
Ele escolhe, balbucia e deixa à míngua.
Como ferraduras faz seus decretos,
Vai na virilha, no olho, no esqueleto,
Lembra execução, mas é uma festa
Que alegra seu largo busto de osseta.
Novembro, 1933
Tradução: Paulo Ferraz
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