quinta-feira, 27 de julho de 2017

AMÁLIA – Vergonha de Capas Negras

 
 
 
AMÁLIA RODRIGUES
(Lisboa, Portugal, Julho de 1920 – Outubro de 1999)

 
VERGONHA DE CAPAS NEGRAS

Como actriz, Amália protagonizou alguns dos maiores êxitos de bilheteira do cinema português, e não só, caso do francês Amantes do Tejo. Nenhum lhe proporcionou, porém, o estatuto que ambicionava – ambicionava ser, confessou, «uma Anna Magnnani ibérica».

Pôs grandes esperanças em Vendaval Maravilhoso, de Leitão de Barros (o seu melhor filme), e nas Ilhas Encantadas, do parisiense Carlos Vilardebó, onde não cantava e onde viveu com excepcional expressividade, mas parco resultado, uma personagem talhada, à partida, para si.

Afastar-se-ia depois dos ecrãs rejeitando, entre outros, um convite de Anthony Quinn para rodar Bodas de Sangue. O seu desinteresse levou o actor (« Amália era a intérprete ideal da peça de Lorca, sem ela não consigo realizar o projecto») a abandonar a proposta.

Ela tinha a noção de que a idolatria à sua volta a transformara num produto de comércio nas artes, nos espectáculos, nas indústrias culturais, o que a impedia de ir mais longe, sobretudo no cinema e no teatro.

Daí ter-se desligado deles, nunca tendo assistido, «por vergonha», a Capas Negras, a sua fita de maior sucesso de bilheteira. Fado e Sangue Toureiro, foram-lhe outras decepções, como a maior parte das revistas, operetas e comédias que protagonizou.

Os Amantes do Tejo, modesta película francesa, teve, no entanto, o mérito de a lançar internacionalmente devido ao fado Barco Negro, poema de David Mourão-Ferreira, que galvanizou o público europeu.

«Não gosto de máquinas, nunca tirei uma fotografia, nunca guiei», dirá em entrevista ao escritor José Correia Tavares: «Exijo cada vez mais, na qualidade dos versos, das músicas, dos guiões , de mim, o que me faz sofrer imenso.»

 

FERNANDO DACOSTA, in “Amália – A Ressurreição”

 


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