quarta-feira, 16 de agosto de 2017

HENRI MICHAUX – Que repouse em revolta

 
 
 
HENRI MICHAUX
(Bélgica,1899 – França,1984)

Poeta, escritor e pintor

Autor de poemas que são a narrativa de suas viagens imaginárias, de seus sonhos ou alucinações: Viagem à grande Garabândia; Pena; Aqui, Poddema.
Seus desenhos e suas pinturas ligam-se às mesmas pesquisas.

 
in, “Dicionário Larrousse”

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Palavras de Henri Michaux
“A aprendizagem da aranha não é para a mosca.”

 
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QUE REPOUSE EM REVOLTA
 
No escuro, no escuro será sua memória
no que sofre, no que cheira mal
no que procura e não encontra
no barco que se racha no areal
na partida sibilante da bala perfurante
na ilha de enxofre será sua memória.
No que tem em si a sua febre e a quem não importam as paredes
no que se lança e só tem cabeça para bater nas paredes
no ladrão não arrependido
no fraco para sempre recalcitrante
no pórtico desventrado será sua memória.
 
Na estrada que obceca
no coração que procura a sua praia
no amante a quem o corpo foge
no viajante que o espaço rói.
No túnel
no tormento girando sobre si próprio
no que ousa roçar por cemitérios.
Na órbita inflamada dos astros que se chocam
no barco fantasma, na noiva desonrada
na canção crepuscular será sua memória.
Na presença do mar
na distância do juiz
na cegueira
na taça de veneno.
No capitão dos sete mares
na alma do que lava a adaga
no órgão do canavial que chora por todo um povo
no dia do escarro sobre a oferenda.
No fruto de inverno
no pulmão das batalhas incessantes
no louco na chalupa.
Nos braços torcidos dos desejos para sempre insaciados
será sua memória.
 
(Da colecção Poètes d'aujourd' hui)
Tradução de António Ramos Rosa
 

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