Homenagem
de Vergílio Ferreira a Jorge de Sena
Agora que a morte o arredou de todos, agora que se alargou o espaço em que os inimigos se moviam, agora é a altura de sua obra o substituir. Que espaço ocupado por ele será ocupado por ela?
Acabadas as razões emocionais de todos,
quando sobretudo a morte os suprimir a eles e a obra ficar definitivamente
sozinha, creio que a sua poesia ouvir-se-á ainda melhor, harmonizada com a dos
grandes poetas deste século português.
Da prosa, é impecável a de certos
contos, nomeadamente a daquele que nos fala de Camões já no fim da vida,
traçando o percurso da sua amargura na Sôbolos rios que vão. Das coisas
eruditas, não sei. Mesmo os ensaios, foi pena que ele tropeçasse tanto na
maledicência e não abrisse apenas caminho por onde ela não houvesse.
De
qualquer modo, um livro como Metamorfoses
será sempre uma revelação de beleza, de grandeza humana, de fascinação. O
resto, a legenda agressiva de Sena, será esquecida, para esquecer, ou para
lembrar, apenas no anedotário dos grandes homens. Paz ao Sena morto, viva a sua
poesia.
in
“Conta-Corrente II”
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