domingo, 8 de abril de 2018

CARLO CIPOLLA – Estupidez e poder



CARLO CIPOLLA
(Pavia, Itália, 1922 - 2000)
Professor de História Económica

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Estupidez e poder

Como todas as criaturas humanas, também os estúpidos influenciam as outras pessoas com intensidades muito variadas. Alguns estúpidos só causam, normalmente, percas limitadas, ao passo que outros conseguem causar danos assustadores não só a um ou dois indivíduos, mas a comunidades ou sociedades inteiras. 

O potencial de uma pessoa estúpida para provocar danos depende  de dois factores principais. Antes de mais, depende do factor genético. Alguns indivíduos herdam enormes doses do gene da estupidez e, graças a essa herança, fazem parte, desde que nascem, da elite do seu grupo. O segundo factor que determina o potencial de uma pessoa estúpida deriva da posição de poder e de autoridade que ela ocupa na sociedade. 

Não é difícil encontrar, entre os burocratas, generais, políticos e chefes de Estado, exemplos claros de indivíduos fundamentalmente estúpidos, cuja capacidade de prejudicar o próximo foi (ou é) perigosamente ampliada pela posição de poder que ocuparam (ou ocupam). A propósito, convirá, neste contexto, não nos esquecermos dos prelados.

A questão acerca da qual muitas vezes as pessoas razoáveis se interrogam, é a de que forma e porquê pessoas estúpidas conseguem alcançar posições de poder e de autoridade.

As origens de classe e casta (seja esta laica ou eclesiástica) foram as instituições sociais que, na maioria das sociedades pré-industriais, permitiram um fluxo constante de pessoas estúpidas para posições de poder. No mundo industrial moderno, classe e casta vão tendo cada vez menos importância. 

Todavia, em vez de classe e casta existem os partidos políticos, a burocracia e a democracia. Num sistema democrático, as eleições gerais são um elemento de grande eficácia para assegurar a estabilidade entre os poderosos. Existe uma fracção de votantes que são estúpidos e as eleições oferecem-lhes uma magnífica ocasião para prejudicar todos os outros sem obter qualquer ganho com as suas acções. Realizando esse objectivo, através das eleições contribuem para a manutenção do nível de estúpidos entre as pessoas que se encontram no poder.



in “As leis fundamentais da estupidez humana”




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