quinta-feira, 3 de maio de 2018

VENCESLAU DE MORAIS – O jardim da gruta de Camões


VENCESLAU DE MORAIS
(Lisboa, Portugal, 1854 - Tokushima, Japão, 1929)
Escritor e militar da Marinha Portuguesa

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O jardim da gruta de Camões

O jardim da gruta de Camões é um dos sítios mais aprazíveis do nosso pequenino domínio do Extremo Oriente. Ao prestígio da sua velha lenda reúne o encanto natural da posição culminante, dos horizontes vastos, da vegetação vigorosa que aqui encontra asilo, conchegada com as rochas, contra a fúria inclemente dos tufões… 

Centenas de aves descuidadas chilreiam a todas as horas saltando de ramo em ramo, e grandes borboletas, com asas de veludo negro, redemoinham, em loucas fantasias. Um enlevo! Pululam, surgindo das viçosas alfombras dos fetos e das avencas, árvores variadas, em diferentes tons de verde. 

Da altiva jaca pendem os frutos grandes como pães; o jamboleiro, o caramboleiro, a acácia, a nespereira, a palmeira namoram-se de perto; enlaçam-se pelos troncos, formando abóbadas maciças, por onde não côa a luz do sol; destaca o tufo recortado da papaia; tremulam as longas folhas da bananeira, as ramas dos bambus; e sobreerguem-se, como colossos vetustos, os ficus – as árvores sagradas das bonzarias – elevando no azul do espaço as suas amplas cabeleiras de folhagem, soltas ao vento as raízes adventícias como barbas de velho, retorcidos, multiplicados os troncos, semelhando ossadas de gigantes doutros tempos.



in “ Traços do Extremo Oriente”



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