sábado, 8 de setembro de 2018

YIANNIS RITSOS - Coisas simples e incompreensíveis



YIANNIS RITSOS
(Grécia, 1909 - 1990)
Poeta, dramaturgo, tradutor

***
O seu livro Epitáfios foi queimado publicamente pela ditadura de Ioannis Metaxas. Em 1948, com o início de outra ditadura militar na Grécia, Yiannis Ritsos é preso, passando pelos campos de Limnos e o terrível Makronisos, onde escreve seus Diários do Exílio.

Em 1967, é preso novamente, desta vez pelo regime da Junta Militar de George Papadopoulos e Nikolaos Makarezos, e enviado para o campo de Gyaros. É proibido de publicar até 1972.

Está entre os grandes poetas gregos modernos, ao lado de Konstantinos Kavafis, Kostas Kariotakis, Giorgos Seferis e Odysseus Elytis.

Recebeu o “Prémio Lenin da Paz”

in “Escritas” - Ricardo Domeneck

 ***

Coisas simples e incompreensíveis

Nada de novo — repete ele. Os homens matam-se ou morrem,
sobretudo
envelhecem, envelhecem, envelhecem — os dentes,
os cabelos, as mãos, os espelhos.
Aquele vidro do candeeiro, quebrado — foi consertado com um jornal.
E o pior de tudo: quando aprendes que algo vale a pena, já passou.
Então se faz uma grande serenidade. Chega o verão. As árvores
são altas e verdes — muito provocantes. As cigarras cantam.
À tardinha, as montanhas azulecem. Lá de cima descem
homens obscuros. Coxeiam ladeira abaixo (fingem que coxeiam).
Lançam cães mortos ao rio, e depois, muito tristes e como
que irritados
dobram os sacos de linho, coçam os testículos e olham a lua
na água. Somente essa coisa inexplicável:
fingirem-se de coxos, sem que ninguém esteja a vê-los.



Sem comentários:

Enviar um comentário