terça-feira, 16 de julho de 2019

GILKA MACHADO - Chuva de cinzas



GILKA MACHADO
(Rio de Janeiro, Brasil, 1893 - 1980)
Poetisa

***
É considerada como a primeira mulher a publicar poesia erótica no Brasil e única autora a fazer parte do Simbolismo.

***
CHUVA DE CINZAS
 

na estática mudez da Terra triste e viúva;
e, da tarde ao cair, sinto, minha alma, agora,
embuça-se na cisma e no torpor se enluva.


Hora crepuscular, hora de névoas, hora
em que de bem ignoto o humano ser enviúva;
e, enquanto em cinza todo o espaço se colora,
o tédio, em nós, é como uma cinérea chuva.


Hora crepuscular - concepção e agonia,
hora em que tudo sente uma incerteza imensa,
sem saber se desponta ou se fenece o dia;


hora em que a alma, a pensar na inconstância da sorte,
fica dentro de nós oscilando, suspensa
entre o ser e o não ser, entre a existência e a morte.
 




Imagem: Gilka Machado - desenho em lápis de cera, de Amaury Menezes (neto da poetisa)
 





Sem comentários:

Enviar um comentário