(Lisboa, Portugal,
1890 — Paris, França, 1916)
Poeta, contista
***
AMOR
VENCIDO
Amavam-se
loucamente, com um tão grande amor, que só poderia ser vencido pela morte…
Em
breve iriam pertencer um ao outro.
Ela,
órfã de pai, vivia com sua mãe, uma senhora de 50 anos, que, pelos desgostos,
aparentava mais de 60.
Mãe
e filha eram extremamente parecidas. Ele dizia até muita vez, sorrindo:
-
Quando olho para tua mãe, vejo-me transportado d´aqui a muitos anos, quando
formos velhos, quando fores uma avozinha.
**
Se a desgraça não dura sempre, a felicidade muito menos. Num domingo, a pobre senhora morreu. Era precisamente no dia seguinte que os dois jovens se deviam casar.
Em
vez de beijos, lágrimas...
Ele
quis despedir-se da morta; acercou-se do seu leito, curvou-se e pousou os
lábios na gélida face…
No
mesmo instante, porém, recuou, os cabelos em pé, os olhos desmesuradamente
abertos…
É
que o rosto que ele via, contraído num esgar horripilante, era a caricatura
horrível daquele que desejaria cobrir de beijos!
O
seu amor não pôde resistir a esta horrível visão! Sim, desde esse momento, como
unir à sua essa boca que tanto apetecera, se, ao beijá-la, julgaria encontrar
em vez de uns lábios frementes e tépidos, outros, gelados e hirtos? Como
estreitar esse corpo que ambicionara confundir com o seu, se a imagem
aterradora de um cadáver hediondo se ergueria diante dos seus olhos alucinados?
Como,
sim, como? De forma alguma!...
Por
isso partiu para uma pequena viagem… Nunca mais voltou…
Quem
ousará dizer que, mais uma vez, o amor não foi vencido pela morte?...
in
“Primeiros Contos”
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