domingo, 15 de setembro de 2019

JOÃO GASPAR SIMÕES - Da Cultura e da Erudição (II)



JOÃO GASPAR SIMÕES
(Figueira da Foz, Portugal, 1903 — Lisboa, 1987)
Dramaturgo, crítico literário, tradutor

***

DA CULTURA E DA ERUDIÇÃO (II)

(continuação)


Logo a reserva de conhecimentos do erudito e a de experiências do tradicionalista, existirem neles de tal maneira que eles não vivem – o erudito, das suas ideias assimiladas e convertidas em produto da sua própria inteligência, o tradicionalista, das suas leis de vitalidade interna original – mas, tanto um como o outro – limitam-se a obedecer a ideias e experiências mantidas na consciência como factos inevitáveis e estáveis. 

Quer dizer que o erudito e o tradicionalista vivem segundo um ritmo vital que lhes não pertence. Como um corpo flutuando à superfície das águas que as ondas concêntricas derivadas da queda doutro corpo nas mesmas águas fizessem oscilar – o erudito e o tradicionalista oscilam em obediência à vibração provocada numa superfície histórica por qualquer corpo de doutrina ou de vida de que resta apenas a vibração. 

Recebido de outros - ou através de outros – o ritmo persiste como se que o receberam continuassem a viver no passado das existências transmissoras. Porque, segundo Max Scheler «graças à tradição vivemos no passado sem possuirmos, todavia, as lembranças que a ele nos ligam e por consequência, sem sabermos que é no passado que vivemos».

(continua)



in “PRINCÍPIO” – Publicação de Cultura e Politica (1930) – Renascença Portuguesa
 






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