JOÃO GASPAR SIMÕES
(Figueira da Foz, Portugal,
1903 — Lisboa, 1987)
Dramaturgo, crítico
literário, tradutor
***
DA CULTURA E DA ERUDIÇÃO (II)
(continuação)
Logo a reserva de conhecimentos do erudito e a de experiências do tradicionalista, existirem neles de tal maneira que eles não vivem – o erudito, das suas ideias assimiladas e convertidas em produto da sua própria inteligência, o tradicionalista, das suas leis de vitalidade interna original – mas, tanto um como o outro – limitam-se a obedecer a ideias e experiências mantidas na consciência como factos inevitáveis e estáveis.
Quer
dizer que o erudito e o tradicionalista vivem segundo um ritmo vital que lhes
não pertence. Como um corpo flutuando à superfície das águas que as ondas
concêntricas derivadas da queda doutro corpo nas mesmas águas fizessem oscilar
– o erudito e o tradicionalista oscilam em obediência à vibração provocada numa
superfície histórica por qualquer corpo de doutrina ou de vida de que resta
apenas a vibração.
Recebido de outros - ou através de outros – o ritmo persiste
como se que o receberam continuassem a viver no passado das existências
transmissoras. Porque, segundo Max Scheler «graças à tradição vivemos no
passado sem possuirmos, todavia, as lembranças que a ele nos ligam e por
consequência, sem sabermos que é no passado que vivemos».
(continua)
in “PRINCÍPIO” – Publicação de Cultura e Politica (1930) – Renascença Portuguesa
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