terça-feira, 28 de abril de 2020

JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA - Os porquês do amor



JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA
(Lisboa, Portugal, 1744 - 1787)
Cientista, poeta, tradutor, professor

***

Poeta de raiz arcádica, educado pelos Oratorianos, com quem estudou, foi elevado a catedrático de Geometria pelo Marquês de Pombal, quiçá em virtude do seu racionalismo que, embora tolerante, o levara, algumas vezes, a manifestar a sua dúvida em coisas da religião. 

Atitude que, mais tarde, no reinado de D. Maria I, dera origem á sua prisão, durante três anos, e à sua reconciliação com a Igreja, num acto de fé em que foi obrigado a apresentar-se descalço e em hábito de penitência.

É considerado um dos pré-românticos portugueses.


in “Literatura Portuguesa”

***

OS PORQUÊS DO AMOR

Céu, porque tão convulso  e consternado
Me bate, ao Vê-la, o coração no peito?
Porque pasma entre os beiços congelado,
Indo a falar-lhe, o tímido conceito?

Porque nas áureas ondas engolfado
Da caudalosa trança, inda que afeito,
Me naufraga o juízo embelezado,
E em ternura suavíssima desfeito?


Porque a luz dos seus olhos, tão activa,
Por lânguida inda mais encantadora,
Me cega, e por a ver, ansioso, clamo?

Porque da mão nevada sai tão viva
Chama, que me electriza e me devora?
Os mesmos meus porquês me dizem: - Amo!











Sem comentários:

Enviar um comentário