quarta-feira, 29 de abril de 2020

MÁRIO BEIRÃO - Enlevo



MÁRIO BEIRÃO
(Beja, Portugal, 1890 - Lisboa, 1965)
Poeta

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Pertenceu ao grupo saudosista aglutinado à volta da revista A Águia. Já então, a par das características saudosistas, manifesta um tom populista precursor quer do telurismo de Miguel Torga quer do regionalismo dos neo-realistas. 

A primeira fase da sua obra compõe-se dos poemas integrados no movimento da Renascença Portuguesa. 

Na segunda fase canta sobretudo a paisagem alentejana e a «ausência» A partir de 1940 tende para a exaltação do nacionalismo monárquico.


in “Portugueses Célebres”

***
ENLEVO
Porque esse olhar de sombra de temor
Se perde em mim, às horas do sol posto,
Quando é de âmbar translúcido o teu rosto,
E a tua alma desmaia como flor;

Porque essas mãos, ardidas de fervor,
Ampararam minha vida de desgosto,
Pobre que sou, Mulher, eu hei composto
Harmonias de prece em teu louvor!


Dei-te a minha alma para ti nascida,
Meus versos que são mais que a minha vida;
Por Deus, perdoa ao mísero mendigo!

Perdoa a quem, ansioso de outro mundo,
Implora à Morte o sono mais profundo,
Só pela graça de sonhar contigo!




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