quarta-feira, 27 de maio de 2020

FILINTO ELÍSIO - Estende o manto, estende, ó noite escura



FILINTO ELÍSIO
(Lisboa, Portugal, 1734 – Paris, França, 1819)
Poeta, tradutor

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Fugido da Inquisição, aportou a França em 1778. Fez traduções e compôs odes, epístolas, epigramas, sátiras, etc. Poeta árcade pelo formalismo, é já pré-romântico pelo conteúdo das suas composições. O seu maior mérito é o da linguagem, pois segundo Almeida Garrett «nenhum poeta, desde Camões, havia feito tantos serviços à língua portuguesa». As suas Obras Completas, 1817-1819, abrangem 11 volumes.


in “Grande Livro dos Portugueses”

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   ESTENDE O MANTO, ESTENDE, Ó NOITE ESCURA

Estende o manto, estende, ó noite escura,
Enluta de horror feio o alegre prado;
Molda-o bem c’o pesar dum desgraçado
A quem nem feições lembram da ventura.

Nubla as estrelas, céu, que esta amargura
em que se agora ceva o meu cuidado,
gostará de ver tudo assim trajado
da negra cor da minha desventura.

Ronquem roucos trovões, rasguem-se os ares,
rebente o mar em vão n’ocos rochedos,
solte-se o céu em grossas lanças de água.

Consolar-me só podem já pesares;
quero nutrir-me de arriscados medos,
quero sacia de mágoa a minha mágoa!

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