domingo, 31 de janeiro de 2021
ALDEIA DA ROUPA BRANCA
sábado, 30 de janeiro de 2021
MAS AFINAL, O QUE É INTELIGÊNCIA?
MAS AFINAL, O QUE É INTELIGÊNCIA?
Quando estava no exército,
fiz um desses testes de aptidão intelectual que todos os soldados realizam.
Minha pontuação foi de 160, o normal é 100. Ninguém na base tinha visto
uma nota dessas e durante duas horas eu fui o assunto principal.
(Não significou nada – no
dia seguinte eu ainda era um soldado raso da KP – Kitchen Police)
Durante toda minha vida
consegui notas como essa, o que sempre me deu uma ideia de que eu era realmente
muito inteligente. E eu imaginava que as outras pessoas também achavam isso.
Porém, na verdade, será
que essas notas não significam apenas que eu sou muito bom para responder um
tipo específico de perguntas académicas, consideradas pertinentes pelas pessoas
que formularam esses testes de inteligência, e que provavelmente têm uma
habilidade intelectual parecida com a minha?
Uma vez conheci um
mecânico de automóveis que de acordo a minha estimativa não poderia superar os
80 pontos nessas provas de inteligência. Sempre tive a certeza que era bem mais
inteligente que ele.
Entretanto, quando
acontecia algo errado com o meu carro eu observava com ansiedade enquanto
ele analisava o meu carro, enquanto proferia termos para mim desconhecidos, mas
que levava em conta como se ele fosse um sábio em um oráculo divino. No fim das
contas, ele sempre consertava meu carro.
Pois bem, vamos supor que meu mecânico tivesse feito as perguntas para um teste
de inteligência. Ou quem sabe fossem formuladas por um carpinteiro, ou por um
agricultor, ou, de facto, qualquer pessoa que não tivesse uma vida académica.
Qualquer uma dessas pessoas que fizesse o teste comprovaria minha
completa ignorância e estupidez.
Em um mundo onde eu não
pudesse usar a minha formação académica e meus talentos verbais, mas tivesse
que fazer algo complicado ou difícil, manualmente, eu me daria muito mal.
Minha inteligência, então,
não é absoluta, mas é algo imposto em uma função de uma pequena parcela
da sociedade em que vivo.
Ainda sobre o mecânico.
Ele tinha o costume de
contar-me piadas sempre que me encontrava. Uma vez levantou a cabeça debaixo do
capô do carro para dizer:
– Doutor, um garoto
surdo-mudo entrou em uma loja de ferragens para pedir pregos. Pôs dois dedos
juntos sobre o balcão e depois fez um movimento de martelar com a outra mão. O
empregado trouxe-lhe um martelo. Sacudiu a cabeça e assinalou os dois dedos que
estava martelando. O empregado trouxe-lhe os pregos. Escolheu o tamanho que
queria, e se foi. Bom, doutor, logo depois entrou um cego na loja. Queria
tesouras. Como acha que lhe perguntou pediu por elas?
Rapidamente levantei a mão
direita e fiz uns movimentos com os dedos simulando uma tesoura. Ele caiu em
gargalhadas e disse:
– Mas você é muito burro
mesmo! Ele simplesmente abriu a boca e usou a voz para pedir.
Depois de recuperar o
fôlego, o mecânico disse:
– Estou fazendo essa
pegadinha com todos os clientes hoje.
– Muitos caíram?
– Poucos. Mas tinha
certeza absoluta de que funcionaria com você.
– Por quê? – perguntei.
– Porque você estudou
muito doutor, sabia que não podia ser muito inteligente.
E eu tive a incómoda
sensação de que ele estava falando a verdade.
ISAAC ASIMOV (Rússia, 1919 – EUA, 1992)
Texto retirado de sua autobiografia “It’s Been a Good Life“.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
FREDERICK FORSYTH
Quando o Muro de Berlim
foi derrubado, muitas pessoas interrogaram-se sobre se isso significaria o fim
dos romances de espionagem. No entanto, Frederick Forsyth, um dos mais famosos
autores mundiais do género, nunca teve dúvidas. Ele sabia que as animosidades
de longa data sobreviveriam aos esforços diplomáticos para as disfarçar, e, na
verdade, pouco tempo depois, o desmascarar do infame espião Aldrich Ames veio
dar-lhe razão.
O autor descreve
vividamente os seus objectivos como escritor, comparando a arena política com
uma representação teatral:
- Nós, os contribuintes e
votantes comuns, sentamo-nos nas bancadas olhando para o palco. O pano sobe e
nós assistimos a uma actuação, seja uma sessão parlamentar, seja uma
conferência de imprensa. Mas nós só vemos o que os produtores querem que
vejamos. O que eu tento fazer é tomar o leitor pela mão e dizer-lhe: «Venha
comigo aos bastidores e eu mostro-lhe as mesmas pessoas sem as perucas, sem a
maquilhagem, antes de terem tempo de ensaiar o que vão dizer. Eu mostro-lhe
como as coisas são na realidade…»
Como é que ele consegue
esse tipo de informação? Falando com quem sabe. No caso de Ícone, isso implicou falar com agentes arrependidos do KGB, fontes
dos serviços pensionários britânicos, ex-superiores de Aldrich Ames na CIA,
visitas a Moscovo e a leitura de um sem número de publicações. Mas a espionagem
em geral não terá sofrido uma redução desde o fim da guerra fria?
- Pelo contrário – diz Frederick
Forsyth. – Andam mais atarefados que nunca. Está a acontecer tanta coisa…
Nos intervalos da escrita
ou da investigação, Forsyth dedica-se à criação de carneiros na sua herdade do
Hertfordshire, onde vive com a mulher, Sandy.
- No fundo eu não passo de
um simples camponês – comenta o autor.
in “Ícone"
Imagem: retrato de Frederick Forsyth por Zsuzsi Roboz
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
CONTRA AS LEIS
Com uma corda de crina o relógio que marca as horas;
A partir de hoje cessam o curso das estrelas
E do sol, e o canto do galo e a sombra;
E tudo aquilo que a hora nunca anunciou
Está agora mudo, surdo e cego:
Toda a natureza se cala para mim
Diante do tiquetaque da lei e da hora.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
O BOM ESCRITOR
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
CARTA DE MÁRIO DE ANDRADE À MÃE
CARTA
DE MÁRIO DE ANDRADE À MÃE
Rio, 25-X-40
Mamãe
Desta vez estou lhe escrevendo só pra lhe
fazer uma porção de recomendações. É a respeito das minhas roupas etc. Imagine
que da última vez que vim d’aí trouxe a minha capa cinzenta que deixara em São
Paulo antes, e qual não foi a minha raiva de perceber que estava toda comida de
traça, com vários buraquinhos. É verdade que ela estava pra fora, pendurada no
cabide da parede e não dentro do guarda-roupa. Mas acho bom a Senhora examinar
bem os meus sobretudos e dar uma boa orvalhada de flit neles.
Também outra coisa que eu queria era que
a Senhora tratasse aí um engraxate pra engraxar todos os meus sapatos. Porque
deixados assim o couro resseca, ao mesmo tempo que o bolor come a graxa e
depois o couro quebra com facilidade. E não quero perder minha sapatada.
Desculpe estar lhe dando estas
caceteações, mas falo tudo de uma vez porque sempre me esqueço de lembrar essas
coisas, quando lhe escrevo. Mas o fato de ficar com minha capa quase perdida me
contrariou muito. [...]
[Acervo da família]
in “Casa Mário de Andrade”- Brasil
segunda-feira, 25 de janeiro de 2021
HINO À NOSSA MÃE FERTILIDADE
no centro da noite.
No jardim original nasceu o Um-Flor,
deus do milho,
da vossa fértil mãe nasceu o deus do milho.
Lá onde se engendram os filhos dos homens,
na região das flores e dos peixes de esmeralda,
nasceu o Um-Flor,
e vai agora levantar-se a aurora,
o dia vai resplandecer.
está cercada de pássaros.
Levo comigo a flor púrpura como a nossa carne,
a flor branca e perfumada, a flor
de onde se erguem todas as flores da terra,
na sagrada cerca redonda como um anel de jade.
E trazem o deus-criança vestido de plumas amarelas
para as mansões da noite, as mansões profundas e negras.
domingo, 24 de janeiro de 2021
CARL GUSTAV JUNG
sábado, 23 de janeiro de 2021
OPORTUNISTAS LITERÁRIOS
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
PRIMEIRA MAESTRINA PORTUGUESA
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
A TRISTEZA VENDE
quarta-feira, 20 de janeiro de 2021
QUEM ÉS TU?
terça-feira, 19 de janeiro de 2021
MALA-POSTA
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
GOLPE DE MISERICÓRDIA
domingo, 17 de janeiro de 2021
MUSEU CASA DE CORA CORALINA
sábado, 16 de janeiro de 2021
O GÉNIO POÉTICO E A ALQUIMIA
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
INGMAR BERGMAN
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
A CONVERSÃO DE BOCAGE
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
TERRÍVEIS VINGADORAS
Imagem: pintura de William-Adolphe Bouguereau