domingo, 13 de outubro de 2013

TENTO EMPURRAR-TE DE CIMA DO POEMA

 

 
Tento empurrar-te de cima do poema


 
Tento empurrar-te de cima do poema

para não o estragar na emoção de ti:

olhos semi-cerrados, em precauções de tempo

a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.

 
Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:

tudo coisas de ti, mas coisas de partir...

E o meu alarme nasce: e se morreste aí,

no meio de chão sem texto que é ausente de ti?

 
 
E se já não respiras? Se eu não te vejo mais

por te querer empurrar, lírica de emoção?

E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?

E se tu não estiveres onde o poema está?

 
 
Faço eroticamente respiração contigo:

primeiro um advérbio, depois um adjectivo,

depois um verso todo em emoção e juras.

E termino contigo em cima do poema,

presente indicativo, artigos às escuras.
 
 
 
Ana Luísa Amaral, in "Coisas de Partir".
Ilustração da pintora polaca, Mariola Bogacki.
 
 

 
 

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