Tento empurrar-te de cima do poema
Tento empurrar-te de cima do poema
para
não o estragar na emoção de ti:
olhos
semi-cerrados, em precauções de tempo
a
sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.
Dele
ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo
coisas de ti, mas coisas de partir...
E
o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no
meio de chão sem texto que é ausente de ti?
E se já não respiras? Se eu não te vejo
mais
por
te querer empurrar, lírica de emoção?
E
o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E
se tu não estiveres onde o poema está?
Faço
eroticamente respiração contigo:
primeiro
um advérbio, depois um adjectivo,
depois
um verso todo em emoção e juras.
E
termino contigo em cima do poema,
presente
indicativo, artigos às escuras.
Ana Luísa Amaral, in "Coisas de Partir".
Ilustração da pintora polaca, Mariola Bogacki.
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