GOTTFRIED BENN
(Mansfeld, Alemanha,1886 - Berlim, 1956)
Poeta e ensaísta
Foi um dos mais famosos escritores do Expressionismo.
Serviu como médico militar na primeira e segunda guerras mundiais, e estabeleceu-se depois em Berlim como especialista de doenças de pele.
Os seus primeiros poemas, Morgue (1912), Sohne (1914) e Schutt (1916) são uma revelação terrível de corrupção e doença.
Para Gottfried Benn a verdadeira vida era a vida dos sonhos e alucinações, a vida do inconsciente, onde existia a verdadeira essência do ser. Foi um seguidor de Nietzsche e niilista radical. Só reconheceu o valor da arte, e só nela confiava para vencer o caos.
Para Gottfried Benn a verdadeira vida era a vida dos sonhos e alucinações, a vida do inconsciente, onde existia a verdadeira essência do ser. Foi um seguidor de Nietzsche e niilista radical. Só reconheceu o valor da arte, e só nela confiava para vencer o caos.
in “Enciclopédia de Literatura”
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Palavras
de
Gottfried Benn
“Um poema, isto quase nunca ‘nasce’, isto se fabrica”
HOMEM E MULHER PASSAM PELO PAVILHÃO DE CANCEROSOS
O homem:
A fila aqui são ventres podres
e aquela, peitos podres. Cama fede junto
a cama. As enfermeiras trocam de hora em hora.
Vem, ergue devagar esta coberta.
Olha: esta massa gorda com humores podres
já foi querida outrora por um homem,
era seu êxtase e seu lar.
Vêm, olha as chagas neste peito. Notas
o rosário de nós pequenos, moles?
Apalpa. A carne é mole e nada sente.
Esta outra sangra como que de trinta corpos.
Ninguém tem tanto sangue.
Tiveram que cortar,
daquele corpo canceroso uma criança.
Que durmam. Dia e noite. — Diz-se aos novos:
o sono aqui faz bem. — Mas aos domingos
deixam-nos acordar, para as visitas.
Comem um pouco. Suas costas cobrem-se
de chagas. Olha as moscas. A enfermeira,
às vezes, lava-os. Como se lavasse um banco.
A cova aqui já ronda cada cama.
A carne desce à lama. A chama some.
A seiva se derrama. A terra chama.
Tradução: Nelson Ascher
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