quinta-feira, 13 de abril de 2017

GOTTFRIED BENN - Homem e Mulher Passam pelo Pavilhão de Cancerosos




GOTTFRIED BENN
(Mansfeld, Alemanha,1886 - Berlim, 1956)

Poeta e ensaísta

Foi um dos mais famosos escritores do Expressionismo.
Serviu como médico militar na primeira e segunda guerras mundiais, e estabeleceu-se depois em Berlim como especialista de doenças de pele.
Os seus primeiros poemas, Morgue (1912), Sohne (1914) e Schutt (1916) são uma revelação terrível de corrupção e doença. 

Para Gottfried Benn a verdadeira vida era a vida dos sonhos e alucinações, a vida do inconsciente, onde existia a verdadeira essência do ser. Foi um seguidor de Nietzsche e niilista radical. Só reconheceu o valor da arte, e só nela confiava para vencer o caos.


in “Enciclopédia de Literatura”

***

Palavras
de
Gottfried Benn
“Um poema, isto quase nunca ‘nasce’, isto se fabrica


HOMEM E MULHER PASSAM PELO PAVILHÃO DE CANCEROSOS

O homem:
A fila aqui são ventres podres
e aquela, peitos podres. Cama fede junto
a cama. As enfermeiras trocam de hora em hora.

Vem, ergue devagar esta coberta.
Olha: esta massa gorda com humores podres
já foi querida outrora por um homem,
era seu êxtase e seu lar.

Vêm, olha as chagas neste peito. Notas
o rosário de nós pequenos, moles?
Apalpa. A carne é mole e nada sente.

Esta outra sangra como que de trinta corpos.
Ninguém tem tanto sangue.
Tiveram que cortar,
daquele corpo canceroso uma criança.

Que durmam. Dia e noite. — Diz-se aos novos:
o sono aqui faz bem. — Mas aos domingos
deixam-nos acordar, para as visitas.

Comem um pouco. Suas costas cobrem-se
de chagas. Olha as moscas. A enfermeira,
às vezes, lava-os. Como se lavasse um banco.

A cova aqui já ronda cada cama.
A carne desce à lama. A chama some.
A seiva se derrama. A terra chama.


Tradução: Nelson Ascher




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