domingo, 24 de março de 2019

BEATRIZ COSTA – A Brasileira dos Anos 30 - (II)



BEATRIZ COSTA
(Charneca do Milharado, Portugal, 1907 - Lisboa, 1996)
Actriz de teatro e cinema

***

A BRASILEIRA DOS ANOS 30

 (continuação)

Perto do Teatro da Trindade, em Lisboa, fica o célebre café A Brasileira do Chiado. (continuação)

Nessa altura, uma senhora não frequentava lugares em que os homens permanecessem… Mas eu não era uma senhora; era uma coisinha curiosa, que só queria aquele tipo de gente, que se reunia no canto da entrada para falar de coisas interessantes e não para discutir a vida e os costumes dos outros. De todos os meus atrevimentos, este foi o que deu melhor fruto.

Ali se reuniam para bater papo os homens que me ensinaram a amar e respeitar a grandeza do meu país. Grandeza que não se mede pela extensão do seu território, mas pela qualidade dos seus filhos. Não sou saudosista, mas reconheço que essa foi uma das fases mais importantes da minha vida!

Nas minhas primeiras aparições causei um certo mal-estar, pois a maioria dos frequentadores era gente pacata, que só riscava na caixinha e não queria complicações. Mas eu não ia lá para isso. A grande atracção por todos aqueles homens, alguns notáveis, não era o físico… Eu queria deles mais do que tinha recebido até ali. Duma maneira geral, todos foram generosos comigo.

Venci o azedume de Gualdino Gomes, mas não consegui grande coisa com Fernando Pessoa, que pouco falava, mas muito deixou para que fosse dito! Pessoa era um homem estranho. Creio que nunca o vi sorrir. Eu estava longe de saber quem estava na minha frente … Depois da sua morte, devo ter sido das pessoas que mais divulgaram a Mensagem em terras do Brasil. Quando tinha de ser gentil e retribuir uma atenção, oferecia aos amigos o livro do genial poeta luso.

(continua)
                                                                


in “Sem Papas na Língua” – Memórias - 1974


Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...