BEATRIZ COSTA
(Charneca do Milharado, Portugal, 1907
- Lisboa, 1996)
Actriz
de teatro e cinema
***
A
BRASILEIRA DOS ANOS 30
(continuação)
Perto
do Teatro da Trindade, em Lisboa, fica o célebre café A Brasileira do Chiado. (continuação)
Nessa
altura, uma senhora não frequentava lugares em que os homens permanecessem… Mas
eu não era uma senhora; era uma coisinha curiosa, que só queria aquele tipo de
gente, que se reunia no canto da entrada para falar de coisas interessantes e
não para discutir a vida e os costumes dos outros. De todos os meus
atrevimentos, este foi o que deu melhor fruto.
Ali
se reuniam para bater papo os homens que me ensinaram a amar e respeitar a
grandeza do meu país. Grandeza que não se mede pela extensão do seu território,
mas pela qualidade dos seus filhos. Não sou saudosista, mas reconheço que essa
foi uma das fases mais importantes da minha vida!
Nas
minhas primeiras aparições causei um certo mal-estar, pois a maioria dos
frequentadores era gente pacata, que só riscava na caixinha e não queria
complicações. Mas eu não ia lá para isso. A grande atracção por todos aqueles
homens, alguns notáveis, não era o físico… Eu queria deles mais do que tinha
recebido até ali. Duma maneira geral, todos foram generosos comigo.
Venci
o azedume de Gualdino Gomes, mas não consegui grande coisa com Fernando Pessoa,
que pouco falava, mas muito deixou para que fosse dito! Pessoa era um homem
estranho. Creio que nunca o vi sorrir. Eu estava longe de saber quem estava na
minha frente … Depois da sua morte, devo ter sido das pessoas que mais divulgaram
a Mensagem em terras do Brasil.
Quando tinha de ser gentil e retribuir uma atenção, oferecia aos amigos o livro
do genial poeta luso.
(continua)
(continua)
in “Sem Papas na Língua” –
Memórias - 1974
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