JAN CAMPERT
(Holanda, 1902 – 1943)
Escritor, critico de teatro, poeta
***
Jan Campert foi preso, durante a guerra, em um campo
de concentração, por ajudar judeus. Acabou falecendo ali, em 1943. O seu poema
mais conhecido é De Achttien Dooden (Os
Dezoito Mortos).
O poema foi
escrito em 1941 e publicado clandestinamente em 1943, em forma de cartão, para
arrecadar dinheiro para ajudar crianças judias. Ele fala sobre a execução de
dezoito holandeses (15 combatentes da resistência e 3 comunistas) pelas mãos
dos ocupantes alemães
***
OS DEZOITO MORTOS
Uma cela só tem dois metros de comprimento
E mal dois metros de largura,
Ainda menor é o talhão
Que por enquanto não figura,
Mas onde anónimo hei-de repousar,
Um entre dezoito, Todos companheiros de lutar,
Nenhum verá o cair da noite.
Ó
querida terra e querida luz
Da
costa holandesa independente,
Com
o inimigo a dominar-vos
Nunca
mais tive paz um só momento.
O
que pode um homem com lealdade honrosa
Ainda
fazer num tempo assim?
Beija
o seu filho,
Beija
a sua esposa
E trava o combate mesmo assim.
Sabia
que seria um esforço oneroso
Cumprir
a tarefa desta iniciativa,
Mas
o meu coração teimoso
Nunca
do perigo se esquiva;
Ele
sabe que nesta terra já houve o uso
De
venerar-se a liberdade,
Antes
da mão do amaldiçoado intruso
Ter tido outra veleidade.
Antes
daquele, que fanfarreia e juramentos desfez,
Ter
causado a náusea desta guerra
E
ter invadido o território holandês
E
ter saqueado a sua terra,
Antes
daquele, que invoca honra
E
tal germânica consolação
Ter subjugado o nosso povo
E
ter pilhado como um ladrão
Agora o Caçador de Ratos de Berlim
Flauteia a sua melodia;
Tão certo como eu encontrarei meu fim
E nunca mais verei minha amada
Nem mais com ela partirei o pão
Nem da cama dela terei o usufruto –
Rejeita tudo o que ele estende na mão
Ou estendeu, esse passarinheiro
astuto.
Quem ler as seguintes palavras, tenha em mente
A miséria dos meus companheiros,
E dos seus mais chegados principalmente,
No seu infortúnio sobranceiros,
Tal como também nós temos recordado
O próprio país e o próprio povo:
É passageiro todo o céu carregado,
Após cada noite nasce um dia
novo.
Vejo como demora o alvorecer
Pela janela lá em cima –
Senhor, por favor alivia-me o morrer,
E se por acaso falhei,
Como qualquer um pode falhar,
Tem misericórdia de mim,
Para que possa ir como um homem
Quando em frente aos canos me
encontrar…
Tradução: Marco Mackaaij
in “Segunda Guerra Mundial Uma - Antologia Poética – Sammis Reachers
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