PAUL ÉLUARD
(França, 1895 - 1952)
Poeta
***
Foi um dos
fundadores do movimento surrealista.
***
LIBERDADE
Nos meus
cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome
Em toda
página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
Nas
imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome
Nas
jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome
Nas
maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome
Nos meus
farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome
Nas
campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome
Em cada
sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome
Até na
espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome
Nas formas
resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome
Nas
veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome
Na lâmpada
que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome
No fruto
partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome
Em meu cão
guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome
No
trampolim desta porta
Nos objectos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome
Nos objectos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome
Em toda
carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome
Na vidraça
das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Em meus
refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
Na ausência
sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
Na saúde
recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome
E ao poder
de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar
Liberdade
.
.
Tradução: Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira
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